Mineiras e criadas na mesma região, Iturama, no Pontal do Triângulo, Heloísa Aparecia Machado Naves e Teresinha Maria da Cruz Rocha tem trajetórias parecidas e lembranças positivas de importantes momentos de suas vidas. De 1963 a 1966 elas cursaram os intensos quatro anos do ginasial, participando da primeira iniciativa comunitária para dotar a cidade de uma unidade de educação de qualidade, fundamental no roteiro de vida que construíram. Determinadas e inteligentes, aproveitaram a experiência, que serviu de base em suas vitoriosas atividades profissionais, com o magistério se destacando.
Agora, 50 anos depois, elas decidiram resgatar esse momento mágico em suas vidas de adolescentes de uma pequena cidade do interior mineiro, ávidas pelo conhecimento e desejosas de construir um futuro melhor para si e para seus familiares. Vencedoras em suas áreas, conquistaram os concursos públicos que enfrentaram e já com os filhos encaminhados reaproximaram-se pelas redes sociais. Tiveram um encontro em Goiânia neste domingo, dia 20, para discutir a realização de um grande evento para comemorar os 50 anos de formatura no ginasial, e marcaram para 17 de dezembro essa reunião com os 23 colegas que formaram a primeira turma do Curso Ginasial do Ginásio Estadual de Iturama.
Já fizeram contato com os integrantes dessa primeira turma, e a grande maioria confirmou sua presença: Adélia Almeida Guimarães, Afra Maria de Freitas Queiroz, Agmon Pedro de Almeida, Dilma Rosa de Queiroz, Divinomar Roberto Barbosa, Ennio Leonel Filho, Gildete Fátima Soares, Heloísa Aparecida Machado, Luiz Antônio Freitas Queiroz, Luiza de Marilac Gonçalves, Maria Antônia de Faria, Maria Queiroz Barbosa Leal, Maria Regina Alves, Maria Selma Carvalho dos Santos, Nei Alves Barbosa, Noirma Leonel de Menezes, Odilon Barbosa de Queiroz, Olegário Pereira de Lima (orador\), Rolemberg José de Queiroz, Teotônio Marques de Queiroz, Teresinha Maria da Cruz, Vanda Maria de Miranda e Zélia Almeida Guimarães.
Na agenda, lembrar dos homenageados da época: paraninfa, Maria Sarah Felippe Villaça Lopes, diretora do Ginásio; patrona, Eni Leonel de Paula; homenagem especial, dr. Gabriel Pereira Lopes; cônego João Maria de Assis Vallim, da Paróquia de Santa Rosa de Lima; prefeito municipal Alcides Roberto Barbosa; superintendente da Associação Cultural de Iturama (ACI), Djalma Alvarenga de Oliveira; 1º presidente da ACI, Filadelfo Rodrigues de Lima, dono do Cartório de Registro Civil e Tabelionato; 2º presidente da ACI, farmacêutico Ennio Leonel de Paula; secretária do Ginásio Estadual, Laís Aparecida Machado; e professoras Elizene Silva Lima, Lília Simone de Almeida e Lígia Franco Amaral.
Experiência comunitária
Nos anos 1960 a pequena Iturama contava com apenas uma escola pública, o Grupo Escolar Nossa Senhora de Lourdes, e os jovens tinham que ir para cidades maiores para continuar os estudos. Diante dessa situação, as lideranças locais decidiram se unir para buscar uma solução, quando discutiram alternativas, e fizeram uma opção: criaram uma entidade sem fins lucrativos, a ACI, formada por pais que tinham filhos na idade de frequentar a escola, que contribuiriam para o pagamento dos custos de sua manutenção e da remuneração dos professores, e escolheram um modelo americano. Na época, alguns pais questionaram a quantidade de matérias, de professores e os seus salários, sugerindo a sua redução para diminuir custos, o que não foi aceito.
Definidas as ações e a estratégia de funcionamento do primeiro Curso Ginasial da cidade, foi criado o Ginásio Estadual, sob a gestão da ACI e com projeto pedagógico construído pelo seu corpo docente. Para ingresso, os alunos enfrentaram o difícil exame de admissão, prova escrita, coordenada pelas freiras franciscanas. 50 alunos foram aprovados. A primeira turma concluiu o curso em 1966, quando os seus integrantes optaram por continuar os estudos e, para isso, tiveram que se mudar para outras cidades, que ofereciam o ensino médio.
Trajetórias próprias
A mudança para outra cidade, para estudar, ter mais conhecimento, faz com que muitos não retornem à sua cidade de origem, diante das alternativas que surgem. As duas colegas que se reaproximaram pelas redes sociais depois desse período, por exemplo, seguiram caminhos diferentes, cada uma construindo uma trajetória própria, e agora querem retornar a Iturama para reencontrar os colegas, retomar o relacionamento que tiveram nesses inesquecíveis quatro anos, e deixar registrado o agradecimento por aquela oportunidade de estudo.
Teresinha Maria da Cruz nasceu na fazenda, em Gurinhatã, que integrava o município mineiro de Campina Verde, e depois se mudou, com a família, para Iturama, para estudar. Desde pequena ajudava os pais na manutenção da casa. Quando concluiu o ginásio foi para Uberlândia, MG, para cursar o Normal, indo morar na casa de um tio; logo conseguiu um emprego para se manter, e passou na rigorosa seleção. Concluiu o curso e retornou a Iturama, para lecionar Matemática e ajudar na manutenção da casa dos pais, que tinham nove filhos e pequena remuneração pelo trabalho de carpinteiro. A irmã Águida terminou o nível médio, foi para Brasília e a chamou, acatando seu convite em 1973. Como teve uma base de ensino muito boa, passou no vestibular para cursar Matemática na Universidade de Brasília (UnB) e no concurso para lecionar na Fundação Educacional do Distrito Federal, nível médio. Em 1974 passou no concurso para a Polícia Federal, fez o curso para ingressar na instituição e foi trabalhar em João Pessoa, PB, onde ficou três anos, casou-se com mineiro Dênis Rocha, que trabalhava no Banco Central, e voltou para a Capital Federal. Em 1980 passou em concurso para o Banco Regional de Brasília (BRB), onde ficou 16 anos, deixou-o em 1996, mas continuou na área, gestão de pessoas, como consultora. Passou a atuar no Fundo de Pensão dos Empregados do BRB, Regius, fez pós-graduação em Gestão de Pessoas, e ali atua até hoje, primeiro como gerente do Fundo, integrante da direção e atualmente com conselheira. Terezinha Maria e Dênis Rocha têm três filhos: Antonieta, Cecília e Mateus.
Heloísa Aparecida Machado nasceu em Ituiutaba, MG, foi criada em Iturama, onde o pai tinha fazenda e comércio, e ajudava a mãe nas tarefas domésticas e a cuidar dos irmãos. Concluído o ginasial, foi para Bebedouro, SP, morar com uma tia paterna e fazer o ensino médio. De lá mudou-se para Goiânia, em 1970, para continuar os estudos. Morou em pensionatos com a irmã, Laís Aparecida Machado, que chegara um ano antes; logo arrumou emprego, passando em concurso para lecionar no Externato São José. Queria estudar Medicina, mas não tinha condições financeiras para se manter e ao curso, quando optou por Biologia, na Universidade Católica de Goiás. que concluiu em 1974. No ano seguinte foi aprovada na rigorosa seleção para lecionar na UCG, tornando-se uma das pioneiras na introdução das disciplinas ‘Metodologia do Trabalho Científico’ e ‘Lógica’. Em 1978 foi aprovada em concurso para lecionar na Universidade Federal de Goiás, em seu Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, período em que se destacou no ensino e na pesquisa acadêmica. Mesmo antes de concluir o Mestrado em Medicina Tropical, área de concentração em Parasitologia, pela UFG, já lecionava nos cursos de pós-graduação da área médica da instituição. Aluna brilhante e pesquisadora incansável, realizou uma pesquisa de grande interesse social e repercussão, e com seu trabalho conquistou a nota 10 com louvor por unanimidade dos três exigentes membros da Banca Examinadora de seu Mestrado. Sua dissertação foi considerada uma tese de doutorado, tal o nível das pesquisas, que se concentraram em grupos de insetos que necessitam ser estudados continuadamente, em função de sua importância para a sobrevivência humana e animal. Em sua trajetória de pesquisa acadêmica, ela tem mais de 100 trabalhos publicados em revistas e em anais de congressos científicos. Aposentada na UFG, voltou a lecionar na UCG e, mesmo não tendo titulação em ‘Lógica’, foi aprovada no concurso aberto na instituição para a disciplina. Aposentou-se novamente, em 2012. Casada com o jornalista Jales Naves, tem três filhos: Rossana, Mariana e Jales Júnior, e uma neta, Antonella.
História de Iturama
Iturama surgiu da vontade da proprietária da Fazenda Santa Rosa, dona Francisca Justiniana de Andrade, que doou 189 alqueires de terra, em 24 de março de 1897, à Diocese de Uberaba. Na área, próximo ao rio Grande, cresceu o povoado, numa região habitada por índios Mebêmgôkre (denominados Caiapó pelos invasores europeus) e de belas matas e cachoeiras.
Criado como distrito de Santa Rosa pelo Decreto estadual nº 148, de 17 de dezembro de 1938, com terras desmembradas de São Francisco de Sales, foi inicialmente subordinado ao município de Campina Verde. Cinco anos mais tarde (31 de dezembro de 1943), passa a se chamar Camélia. No ato emancipatório (Lei nº 336, de 27 de dezembro de 1948), cujo processo foi acompanhado pelo advogado Tomáz Naves, ficou definido o nome atual. No dia 1º de janeiro de 1949, em sessão presidida pelo seu primeiro Juiz de Paz, Palmério Urzedo de Queiroz, instalou-se o município. Foi nomeado pelo Governo do Estado para intendente o Sr. Heliodoro Gonçalves da Maia, que assumiu em 22 de março de 1949.
Segundo as interpretações de Joaquim Ribeiro Costa, José Carvalho e Cônego Osório, iturama (yty-terama) significa “região das quedas d’água”, provavelmente em referência às grandes cachoeiras que existiam onde é a Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, e, de acordo com o povo mebêngôkre, “homens do poço/lugar d’água”. A festa comemorativa da cidade é realizada em agosto (já foi no dia 31 e agora é no dia 23), o dia de Santa Rosa de Lima, padroeira da cidade.
Caro Jales,
Muito boa a redação sobre Iturama e a biografia da Heloísa também ficou excelente!
Há que acrescentar que os srs. Alberto Simeão de Queiroz(meu pai) e Universo foram pra Belo Horizonte, para estadualizar o Colégio e o conseguiram.
Nota: viagem e hospedagem foi do próprio bolso desses idealistas.
E o conseguiram! Foi então construído o Colégio Estadual de Iturama, onde eu concluí o ginásio, em 1967 e fui da primeira turma de normalistas: em 1970.
Abraços saudosos,
Maria de Fátima Queiroz