Símbolo maior das ações do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás na atual gestão, que possibilitou imprimir uma nova dinâmica à entidade, a restauração da Casa Rosada de Goiânia – nova referência da cidade em termos culturais e turísticos – completou dois anos e foi devidamente comemorada. No farto café da manhã oferecido pela Diretoria da entidade, a confraternização entre os presentes, pelo prazer do encontro de amigos tão próximos, e a série de homenagens prestadas a colaboradores nas mais diversas frentes de trabalho.

O primeiro ato foi o lançamento do novo livro do professor Horieste Gomes, “Braços e mentes que construíram Goiânia”, no qual resgata a participação dos trabalhadores na construção da nova Capital goiana, e da edição nº 34, anual, da ‘Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás’; e as homenagens ao professor Domingos Tiveron Filho, que estava completando 85 anos de idade e foi quem descobriu um dos dois rolos compressores, utilizados no asfaltamento das primeiras ruas de Goiânia, doados ao IHGG;  aos escritores Nars Chaul e Geraldo Coelho Vaz; e ao médico Diogo Mafia Vieira (na foto, de Nelson Santos, com Jales Mendonça), presidente do Sicoob UniCentro Br, que idealizou a reforma e restauração da Casa Rosada de Goiânia e a executou e que tem sido parceiro do Instituto, tornando-se inclusive sócio mantenedor da instituição.

A parceria com o Sicoob UniCentro Br, a primeira dentre outras que impulsionaram o trabalho do IHGG, conforme o presidente Jales Guedes Coelho Mendonça, permitiu que o Instituto se transformasse numa entidade multicultural – manteve e ampliou seus objetivos centrais, como o apoio e a preservação da história e da cultura, e acrescentou novas atividades, como o incentivo às artes, à educação, ao lazer e ao turismo. Criou o Café Brasileira Leo Lynce, que serve até refeições e é ponto de encontro nas tardes da cidade; o projeto ‘Café com Arte na Casa Rosada’, que já apresentou exposições de mais de 50 artistas, em cooperação com a Associação Goiana de Artes Visuais (AGAV); o programa ‘A História chama a escola’, que levou mais de dois mil estudantes do ensino médio para uma visita ao IHGG e dialogar sobre a história goiana; e a Hemeroteca, o maior acervo digital de jornais goianos já disponibilizados à sociedade, com maior volume de publicações, na área, do que a Biblioteca Nacional.

Livro

Graduado em História (1960) e em Geografia (1963), ambos pela Universidade Católica de Goiás, e iniciado o doutoramento em Geografia Econômica e Humana na Universidade de Lund, Suécia (1977-80), Horieste Gomes é professor emérito da Universidade Federal de Goiás. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Teoria e Metodologia Geográfica e Regionalização, atuando principalmente quanto a geografia política, meio ambiente, ensino e pesquisa em geografia, educação e geografia econômica. Participou de mais de 70 livros.

Em “Braços e mentes que construíram Goiânia” ele resgata a participação dos trabalhadores nesse momento – “a grande maioria da população desprovida de recursos e que possui, como atributo de valor, unicamente a força física dos seus braços para desempenharem socialmente as diversas modalidades de profissão”. Nos relatos sobre o histórico da Campininha das Flores e de Goiânia em construção “pouquíssimas vezes foram mencionados por seus autores” – o papel social dos trabalhadores braçais, “os valores de seu empenho e respectiva importância que tiveram para o crescimento e desenvolvimento da nova Capital do Estado”.

“Busco agora, nas possibilidades que possuo com relação a lembranças e fontes históricas disponíveis, resgatar um pouco mais do significado e valor do trabalho que essa categoria exerceu num passado tão próximo à nossa atualidade”, afirmou. “Espero que, com este simples e limitado texto de reconstrução histórica, melhor dizendo, de rememoração sobre aqueles que desde os primórdios da história da humanidade, pelo seu trabalho socialmente necessário, vêm construindo o mundo em que vivemos, eu consiga minimizar parte dessa lacuna existente e colocar os operários e demais trabalhadores no lugar a que têm direito – pioneiros ativos do heroico empreendimento que se tornou realidade no Planalto Central como um posto avançado da ‘Marcha para o Oeste’, preconizada pelo presidente Getúlio Vargas”.

Edição nº 34

         A partir do nº 32, de 2021, a ‘Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás’ tem publicado sua edição anual em duas versões, impressa e on-line. Com a decisão, conforme o editor-chefe, professor Ricardo Assis Gonçalves, viabiliza a democratização do acesso aos trabalhos e publicações dos pesquisadores e escritores goianos. A edição eletrônica seguirá no formato de acesso livre e gratuito, sendo aberta à leitura dos textos publicados. As edições eletrônicas são realizadas em parceria com o Portal de Periódicos da Universidade Evangélica de Goiás, que hospeda o periódico no formato de Open Journal System (OJS).

Os 15 textos publicados na edição nº 34 objetivam incentivar e desenvolver estudos históricos, geográficos e de ciências correlatas, para divulgar a produção de escritores em diferentes gêneros literários, visando a afirmação da cultura e da identidade que constituem a formação social goiana e brasileira. Contou com a colaboração de pesquisadores e escritores do IHGG, Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado, Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, Academia Goiana de Letras, Seção de Goiás da União Brasileira de Escritores, Sociedade Goiana de História da Agricultura, Gabinete Literário Goyano, Universidade Federal de Goiás, Universidade Estadual de Goiás e UniEvangélica.

Exposição

         Em seguida foi inaugurada a décima exposição na Casa Rosada de Goiânia a partir da sua restauração, desta vez mostrando a obra do professor, escritor e compositor Nasr Nagib Fayad Chaul – graduado em Direito, mestre em História pela Universidade Federal de Goiás e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, ele se aposentou como Professor da UFG. Foi presidente da Agência Goiana de Cultura (Agepel) por quase uma década; gestor do Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON); e é autor de diversos livros, artigos de jornal, artigos científicos e compositor, tendo realizado parceria com nomes da música estadual e nacional.

“Goiânia refletiu de forma importante na minha vida, sendo até tema da minha dissertação de Mestrado na UFG – ‘A Construção de Goiânia e a transferência da Capital’. Foi nessa época que conheci alguns dos mais importantes parceiros na música, como Otávio Daher, Fernando Perillo, Gustavo Veiga e outros. Esse contato com a música levou a outras paixões e influências como a literatura, as artes plásticas, a dança e o teatro. Isso tudo foi um patamar fundamental da minha criação”, afirmou. O cantor Fernando Perillo lembrou que essa parceria com Chaul foi uma feliz coincidência, uma vez que ambos queriam colocar Goiás como tema das canções. “Na década de 70 nós dois queríamos criar músicas cosmopolitas, mas que refletissem essa base goiana, que servia de inspiração”, contou.

Ao assumir a presidência da Agepel ajudou a criar as agendas culturais mais importantes e relevantes do Estado até hoje. Entre suas maiores criações estão o Festival de Vídeo e Cinema Ambiental (Fica); o Canto da Primavera, voltado para música; a Bienal do Livro; e a Mostra Nacional de Teatro de Porangatu (Tenpo); além do próprio Centro Cultural Oscar Niemeyer.

Nasr Chaul ocupa a Cadeira nº 3 da Academia Goiana de Letras e ressalta que sua escolha foi um coroamento de toda sua dedicação, trabalho e produção ao longo da vida: “Tanto na história, quanto na música, artigos e publicações em jornais resultaram nessa eleição. É uma recompensa enorme do meu trabalho e me sinto muito lisonjeado e orgulhoso”. Ao seu lado na abertura da exposição a esposa Jacirene Ayres Chaul, sua musa inspiradora; deu ênfase à família.

A exposição teve curadoria do historiador Nilson Jaime.

 

Parceria

         A parceria com o Sicoob UniCentro Br, a maior feita com a iniciativa privada em Goiás, que redimensionou todo o trabalho que o IHGG realiza, motivou a homenagem ao médico Diogo Mafia. Ele era Diretor de Relacionamento e Inovação da Cooperativa de Crédito quando esteve na posse da atual Diretoria, em maio de 2021, conheceu todo o espaço e trabalhou um projeto de apoio à entidade, inclusive, como estrategista empresarial, já pensou em colocar uma agência naquele espaço, bem localizado e na região central de Goiânia. Esse entendimento resultou no primeiro acordo de cooperação, com a própria Cooperativa de Crédito assumindo as reformas propostas, em especial mantendo a cor rosa do imóvel construído no final da década de 1930, o primeiro no setor Sul da nova Capital.

Ele contou como se deram os encontros no IHGG, desde a posse às reuniões para visitar os espaços, verificar as condições de funcionamento, as necessidades de mudança e o redimensionamento do local, numa região que precisava ser revitalizada e valorizada, com ações permanentes.

Eleito por unanimidade para presidir a maior Cooperativa de Crédito de Goiás e uma das maiores do Sistema Sicoob, Diogo, 39 anos, assumiu em outubro de 2023 e vai conduzir a transição geracional, já colecionando bastante vivência dentro do universo cooperativista. Sócio de um dos maiores hospitais de oftalmologia goiano, o médico possui ampla experiência em gestão e coleciona no currículo especialização nas melhores escolas de negócios do mundo.

Seu antecessor, Raimundo Nonato, que assumiu como novo presidente do Conselho de Administração da Central Sicoob Uni, ressaltou a capacidade de gestão e o entrosamento do novo dirigente com os princípios do Cooperativismo. Para ele, Diogo assume a liderança com o desafio de continuar o legado de excelência e, ao mesmo tempo, buscar inovação para o futuro. “Tenho certeza que a gestão será um sucesso porque ele tem capacidade técnica, experiência e uma diretoria preparada, de altíssimo nível, além de conselheiros fiscais atentos, experientes e dedicados. Parabéns, Diogo, e parabéns para o Cooperativismo que motiva a todos nós”.

Rolo compressor

         O IHGG aproveitou o momento para três homenagens: ao professor Domingos Tiveron Filho (na foto de Nelson Santos com Jales Mendonça, Aidenor Aires, Geraldo Coelho Vaz, ao microfone, Mário Roriz Filho e Nilson Jaime), que encontrou abandonada uma máquina pesada que serve para compactar superfícies de diversos tipos de material e é bastante utilizada nas fases de preparação de ruas e rodovias; ao escritor Geraldo Coelho Vaz, então presidente do IHGG, que construiu em 2015 o pedestal para colocar as duas peças; e ao advogado Mário Roriz Soares de Carvalho, que doou idêntica peça que havia encontrado em sua chácara nas proximidades de Goiânia; foi representado pelo filho homônimo, que tem uma empresa de engenharia, atuando na área de construção de rodovias.

Mineiro de Uberaba, Domingos Tiveron Filho mudou-se para Goiânia quando estava sendo implantado o Curso de Agronomia da Universidade Federal de Goiás, integrando a segunda turma (1964-1967). Em fevereiro de 1968 ingressou na Secretaria da Agricultura do Estado, que na época era dirigida pelo agrônomo Antônio Flávio de Lima, realizava o trabalho de fomento da cafeicultura e implantou, em diversas regiões, as Agências Rurais, tendo trabalhado em duas delas, em Jaraguá e Itumbiara, retornando a Goiânia em 1971.

Já no final do Governo Otávio Lage, ele e o engenheiro agrônomo Francisco Aires da Silva foram encarregados de ir a Santa Rosa, RS, conhecer o plantio de soja, que tinha sido importada dos Estados Unidos, e adquirir um carregamento de sementes para plantio em Goiás, para distribuição aos produtores rurais. Essa cultura, naquele momento, não era a mais apropriada para os solos goianos, que exigiam correção, e serviu para a sua introdução em terras de Goiás.

Em 1972 Tiveron Filho foi admitido como professor da UFG, no Curso de Agronomia, para lecionar a disciplina ‘Agricultura’, fez carreira docente e ficou 37 anos na atividade, aposentando-se em 2009, ao completar 70 anos de idade.

Quando se mudou para o bairro Feliz, em Goiânia, em 2003, ao fazer caminhadas, descobriu um rolo compressor abandonado próximo da área da estrada de ferro que passava no final desse setor. Ele o identificou como os utilizados pela Secretaria de Viação e Obras Públicas na concretagem de pedras roladas, fase que antecede a pavimentação asfáltica, das ruas centrais da cidade, no início de sua construção, no final da década de 1930. Ligou para um amigo, Helvécio Caetano do Nascimento, cunhado do então prefeito Nion Albernaz, disse de sua descoberta e sugeriu que arranjasse um local para guardar aquela peça histórica. Não conseguiu resposta e só mais tarde é que Helvécio levou até a casa dele o então presidente do IHGG, José Mendonça Teles, que providenciou um caminhão guincho para a remoção do rolo compressor, que ficou no pátio do Instituto, e agora está num espaço especial.

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