Em linguagem simples, de fácil leitura e sem muitas justificativas. Assim foi concebido “100 anos de Gratidão: Biografia de Julieta Franco de Freitas”, escrito pela neta, para contar a trajetória da avó, que completou 100 anos em 2016
Acompanhado da Heloísa, da tia Ester Franco de Almeida Carvalho, e da filha dela, Maria de Fátima, estivemos no último sábado, dia 18, em Uberlândia, MG, visitando Julieta Franco de Freitas, 100 anos completados em 23 de setembro de 2016. É tia da tia Ester.
Muita lúcida, falante, a “Dama de olhos verdes”, que apreciava dançar, gosta de contar histórias e tem prazer em receber visitas.
Filha de Manoel Inácio Franco, rico fazendeiro, e Olegária Emília Macedo, nascida na Fazenda Barreiro, município de Campina Verde, MG, teve 13 irmãos. A escola era na própria fazenda, quando o pai contratava professores para dar aula aos filhos. Casou-se em 1940 com Filogônio Nunes de Freitas, que tinha sido vaqueiro e serralheiro e gostava de tocar sanfona. O casal teve cinco filhos e adotou uma. No total, sem discriminar, são 87 descendentes diretos: seis filhos, 25 netos, 36 bisnetos e 20 tataranetos.
Sua histórias e seus relatos estão no livro “100 anos de Gratidão – Biografia de Julieta Franco de Freitas“, de autoria da neta Aida Cristina Guimarães Franco. 132 páginas, um texto bem elaborado, de fácil leitura e envolvente para quem começa a lê-lo, um relato detalhado da vida no meio rural. Afinal, são muitos segredos de uma pessoa que ultrapassou a barreira dos 100.
Logo no início, a autora cita Júlio Dantas, da Academia de Ciências de Lisboa, que afirmou no livro “Outros tempos“, de 1916: “Infelizes as famílias que não têm história. Não ter história é quase não ter nome; é quase não ter Pátria. Felizes, ao contrário, as famílias que têm história, porque lhes é dado o júbilo de a recordar, porque ela constitui a fonte fecunda, inesgotável e profunda de suas energias morais, porque a cada passo que dão, sentem, atrás de si, o rastro de sua própria imortalidade. Que é a vida senão a história que começa? Que é a história senão a vida que continua? A história de nossa família, de nossa gente, de nossa casa, está conosco. Respira perto de nós. A sua presença todos advinham. Ora bela, ora triste, é uma grande história”.
No prefácio, a autora faz uma indagação de muitos quando começamos a escrever: “O que sua avó fez de extraordinário para merecer uma biografia?”. Ela mesma cita que normalmente se vê biografias de pessoas famosas, artistas, cientistas, grandes empresários ou daqueles que passaram por alguma desgraça que modificou o curso de suas vidas. Esclareceu que sua avó certamente não se encaixa em nenhuma das categorias anteriores. “Ela não é o que podemos chamar de ‘uma mulher que esteve à frente de seu tempo’; não é demasiadamente culta ou letrada, tampouco protagonizou algum fato que pudesse ser considerado inédito. Seu legado para a humanidade possivelmente será imperceptível, como de tantas outras mulheres do mundo. Mas para nossa família seu legado é imenso. Para nós, ela é a matriarca que conheceu e influenciou quatro gerações”, afirmou. E completou: “Julieta Franco de Freitas é um ícone na família. Sua fama não se faz somente por sua longevidade. O que nos encanta é sua lucidez, sua memória invejável, sua força e seu gosto pela vida”.
Aida Cristina tem um estilo simples, conta pequenas histórias, reconstitui momentos especiais vividos pela avó, seus relacionamentos, suas opiniões, sua forma de viver, sua preferência pelo pai etc., sempre de forma positiva.
Lembrei-me, no contraponto de escritores, de matéria que li recentemente na revista “Veja“, de 13 de maio de 2015, sobre o escritor norueguês Karl Ove Knausgård, fenômeno literário com uma longa série de livros que devassam a própria vida – e não recuam diante do fracasso e da banalidade. Conforme o texto, o leitor se sentirá imerso no que parece ser uma reconstituição sem brechas do passado. A força encantatória que tornou Knausgård um ‘best-seller‘ em seu país natal e fez dele um ‘darling’ de revistas culturais americanas se deve em boa parte à minúcia com que ele descreve as ações mais triviais – fazer chá, trocar fraldas dos filhos, comprar cigarros em uma banca de jornal. Ele vendeu meio milhão de exemplares na Noruega, país com cerca de cinco milhões de habitantes (10% dos noruegueses compraram o livro “A Ilha da Infância; este e mais dois da série já foram editados no Brasil: “A Morte do Pai” e “Um Outro Amor“).
São duas formas distintas de relatos, de observações, de como se mostrar, e aos outros, ao mundo.
Gostei da forma como Aida Cristina contou a história da avó, os relatos dela, os depoimentos etc. e, principalmente, da preocupação em não justificar a decisão de escrever o livro, pois não tinha uma heroína convencional, e sim uma pessoa comum, cujo legado maior era a sua dedicação à família e aos seus.
Afinal, histórias são para serem contadas.
Me emocionei com os relatos da tia Julieta. Conheci um pouco mais da vida dos meus bisavós Olegária e Manoel.
Obrigada Aida Cristina, por proporcionar também a nós tamanha alegria com Cem Anos de Gratidão!