Eurípedes Dias Naves e Eliane Santiago
Tranquilo, bom de prosa, um profundo conhecedor dos segredos da família, em especial de seu grande núcleo familiar, os Naves Cocota, e com uma memória privilegiada para fatos que lhe contaram ou que vivenciou, Eurípedes Dias Naves gosta de contar histórias. Goiano de Corumbaíba, 74 anos de idade e 52 de profissão na área contábil, fez muitas amizades nesse período, que conservou e formou, com seu jeito de sempre auxiliar quem o procura sem demonstrar interesse comercial, uma expressiva carteira de clientes. Esse bom relacionamento pode definir a busca de uma atividade que agregue todos os seus familiares, como pretende: quer criar uma empresa em que todos atuem, já prevendo o fim, nos próximos 10 anos, de sua profissão de contador.
Ele se casou duas vezes. Na primeira, com a mineira Mara Regina Pereira, natural de Belo Horizonte, com quem teve três filhos: Rejane, que faleceu com 11 anos; Leandro e Leonardo. Na segunda com a goiana Eliane Jacinto Santiago, natural de Fazenda Nova, 20 anos mais nova e que conheceu quando ela foi trabalhar com ele no escritório que montou em Novo Brasil, cidade vizinha a Anicuns, onde morou; eles não têm filhos.
Esta história foi escrita no encontro para comemoração do aniversário de Eliane Santiago, em 2019, no restaurante Árabe, no Setor Sul, em Goiânia, quando reuniu seus familiares mais próximos: os filhos Leandro e Leonardo, este com a mulher Poliana Cristina e as filhas Geovana e Valentina; a irmã Euza, com o filho Bruno, a mulher Elaine e filhas Cecília e Gabriela, mais as netas Maria Luíza e João Lucas; e a cunhada Elizane, com o marido Ivo Natalino.
Histórias da família
São muitas as histórias da família. Sua avó Ana Rosa teve um único filho, ao se casar com o fazendeiro José Firmino Rodrigues. O nome de seu pai seria José Rodrigues Naves, mas acabou ficando José Firmino Naves.
O bisavô materno, Joaquim Naves de Oliveira, que residia em Araguari, MG, foi responsável pelo transporte, em carros de boi, dos fios para instalação da rede de telégrafo na cidade de Goiás. Eram viagens demoradas, de três meses de duração. Numa dessas, levou o filho Antônio Cocota, e montaram o acampamento às margens do rio Uru.
Do lado da mãe, as histórias começam com a fortuna da família, os Machado Mendonça, que era dona de quase 70% das terras do município de Corumbaíba, no Sudeste de Goiás, compreendendo, dentre outras, as regiões de Bocaina, Serra Negra, Doceira e Comedor. O avô Gerson Machado Mendonça casou-se com Esterlinda Vieira quando ela tinha 13 anos; ele bebia muito, gostava de dar tiros nas porteiras e desde cedo apresentava sinais de perturbação: quando via os quadros grandes com santo nos quartos sempre falava com a mulher para tirá-los, pois iria se suicidar, o que realmente acabou acontecendo. Quando o pessoal ouviu o tiro e o encontrou estirado no chão não teve tempo de chamar uma ambulância para socorrê-lo. Ele gostava de andar a cavalo, que soltava na porta da casa da fazenda, o animal atravessava a sala da residência sozinho e ia para o pasto. O túmulo do avô Gerson foi o primeiro do cemitério da cidade, e o segundo foi do bisavô, coronel José Machado Mendonça. A família tinha a Fonte do Paladar, famosa lanchonete no centro de Goiânia.
Seu pai trabalhou na fazenda da mãe. Eles se casaram em 1949, ali ficando por uns cinco anos, quando se mudaram para Anicuns, na região chamada de ‘Mato Grosso Goiano’, em janeiro de 1954, onde fez amizade com o prefeito da cidade, Ary Ribeiro Valadão. Em 1967, por falta de perspectivas quanto a trabalho e estudo, decidiram se mudar para a Capital.
Antes dessa mudança, uma cunhada de José Firmino, Ondina, casou-se com uma pessoa que a mantinha longe dos parentes; o casal se mudou para o Mato Grosso e não dava notícias. O sogro, preocupado, pediu a ele que a buscasse. Representante comercial da empresa Selaria Mexicana, de arreios, bom vendedor e bom para negócios, ele fazia essa praça há algum tempo. Certa vez, ficou sabendo do paradeiro deles, mandou recados da pensão onde se hospedava e foi ao município vizinho de Poxoreu. Depois, procurou pela cunhada no endereço que lhe indicaram, que achou e a trouxe de volta.
Ele gostava do jogo de cartas, de caixeta, e acabava arranjando confusão. O resultado é que, três anos depois, já em Goiânia, encontrou um fim trágico, no dia 7 de fevereiro de 1967, quando foi assassinado, aos 42 anos, por um pistoleiro. De acordo com Eurípedes, o assassino acabou sendo morto em seguida, na cidade vizinha de Goianira.
Trajetória pessoal
Eurípedes chegou a Goiânia nesse ano. Trabalhou uns seis meses na Casa Matos, de portugueses, mas ao ver que a responsabilidade era muito grande para ele, ainda menor, deixou essa função e foi trabalhar em outras ocupações. Em 1968 vivenciou uma das maiores crises que a cidade já enfrentou, desde quando começou a trabalhar, época em que começou um Curso de Datilografia, que não deu prosseguimento por não ter condições de pagar as aulas. Eram poucas as oportunidades de emprego. As dificuldades eram tantas que não teve dinheiro para fazer inscrição no concurso para fiscal de rendas do Estado e depois viu que pessoas menos preparadas foram aprovadas.
De 1974 a 76 estudou na Escola Técnica de Comércio de Campinas, onde fez o Curso Técnico de Contabilidade e passou a atuar na área. Lembra das muitas brincadeiras realizadas, do roubo de galinhas de casa vizinha à escola, que levavam para cozinhar na cidade de Hidrolândia, ficando na praça da Igreja até de madrugada. Numa dessas peripécias, quando pularam o muro, acabaram caindo em cima do diretor do colégio, professor Rubens Carneiro. Na época, apresentaram aos alunos uma lista com três nomes de candidatos à Câmara Municipal de Goiânia; a opção foi ajudar a eleger Daniel Antônio como vereador, pelo MDB, tendo o parlamentar assumido nesse mandato, interinamente, o cargo de Prefeito de Goiânia. Mais tarde, em 1985, Daniel Antônio se elegeu para o cargo. Nessa experiência viu que alguns políticos não mereciam consideração, pois não recebeu nenhum agradecimento.
Certo dia, quando caminhava com a mãe, foi surpreendido pelo prefeito Daniel Antônio, que parou o carro apenas para cumprimentá-los.
Eurípedes tentou três cursos superiores. No final dos anos 1970 começou Pedagogia e Economia na Universidade Católica de Goiás, onde azucrinou a vida dos padres que dirigiam a instituição, pois na discussão política era considerado de direita, num ambiente propício aos estudantes que se proclamavam de esquerda. Não completou nenhum desses cursos, e só concluiu o Curso de Ciências Contábeis na Faculdade Anhanguera, que tinha começado em 1980.
Em 1979 foi convidado para a posse de seu amigo Ary Valadão, que tinha sido nomeado Governador do Estado, mas não compareceu. Via que, nessas ocasiões, os puxa-sacos ficavam estressados, atropelando as pessoas e os presentes acabavam ficando chateados. Por isso, preferia não ir. Chegou a ganhar uma credencial para frequentar o Palácio das Esmeraldas sem ser barrado pelos seguranças, mas não a utilizou.
Tempos depois, ao encontrar em Anicuns com o então ex-Governador, Ary se mostrou chateado pela ausência do amigo no Palácio e simplesmente o menosprezou. Ao ser cumprimentado perguntou à mulher com desdém se ela o conhecia.
Ficou oito anos no Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários do Estado de Goiás; dirigiu um programa nas rádios Difusora de Ceres e Inhumas, com uma hora de duração, uma vez por mês, ‘Hora Sindical’, e montou escritórios de contabilidade: em 1977, no edifício Cidade de Goiás, na Av. Araguaia com Av. Anhanguera, do dr. Hélio de Brito; ao lado do Cartório de Registro de Imóveis, onde ficou por sete anos; em seguida, foi para perto da praça do INSS, ali permanecendo por dois anos, e ao lado do Cartório do 7º Ofício de Notas, por sete anos. Tem escritórios em Anicuns, Novo Brasil e Goianira. Por fim, comprou uma casa no Setor dos Funcionários, em 1991, onde está instalado.