Três amigos, já com uma trajetória de discussão dos problemas da cidade em busca de soluções, decidiram levantar as informações sobre o Cooperativismo de Crédito, então uma ideia interessante, e levá-la adiante. A cidade onde moravam, Rubiataba, no Vale do São Patrício goiano, já tinha essa tradição de associativismo, com diversos exemplos de organização dos produtores rurais, como no recebimento do leite e no fomento do plantio da cana de açúcar. E um deles, em família, sempre teve esse modelo em suas reuniões sociais, de cada um contribuindo para o coletivo, seja no trabalho, no formato de mutirão, uns ajudando os outros nas tarefas de construção, como em datas especiais, quando todos davam a sua parcela de contribuição para viabilizar a iniciativa, levando comida, bebida etc.
Essa forma de agir prevaleceu quando, em 1993, o odontólogo Vanderval José Ribeiro, o advogado Cleber Coimbra e o economista Adão Moreira da Silva, depois de estudos, concluíram que a Cooperativa de Crédito era uma alternativa importante para a cidade e para todos, e resolveram trabalhar a proposta de sua criação. Ao mesmo tempo, viam uma lacuna na formação das pessoas, na sua profissionalização, quando muitos jovens deixavam a cidade para estudar fora, quando resolveram entrar também na batalha para buscar uma solução nessa área.
O município já tinha um Sindicato Rural forte, atuante, com trabalho regional e mais de mil associados, uma Cooperativa de produtores de leite que em 2015 recebeu mais de 100 mil litros por dia, numa bacia leiteira que rende em torno de 200 mil l/dia, e uma Cooperativa que aglutina os plantadores de cana, para entrega do produto à usina.
Desses estudos surgiu a proposta, o grupo evoluiu, mais pessoas passaram a gostar da ideia e 104 agropecuaristas resolveram, no dia 18 de junho de 1993, fundar a Cooperativa de Crédito Rural de Rubiataba Ltda., com a sigla Credigoiás-Rubiataba e área de ação nos municípios da região: Itapuranga, Nova Glória, Nova América, Itapaci, Morro Agudo, Carmo do Rio Verde, Mozarlândia e Uruana. A nova instituição financeira começou a funcionar pouco menos de seis meses depois, no dia 3 de dezembro, com o trabalho de capitalização utilizando uma moeda comum aos pecuaristas: 60 arrobas para cada um, com a obrigação de capitalizar duas arrobas por ano. Depois, mudaram o sistema.
A primeira agência na cidade foi inaugurada um ano depois, em outubro de 1994. O primeiro presidente foi o produtor rural Mário Correia de Ávila, que tinha uma cerâmica, e cumpriu o mandato; a partir daí e já no sétimo mandato, está o odontólogo Vanderval Ribeiro. O desafio era fazer cada administração diferente da outra. Como passou a fazer os pagamentos da cana a associados da Cooperativa dos produtores de álcool e as pessoas começaram a fazer a ligação entre as duas instituições, citando-a como o “banquinho da Cooper-Rubi” e ela havia aderido ao sistema Sicoob, decidiram mudar a sua denominação para a Sicoob Do Vale.
O primeiro Posto de Atendimento na região surgiu 13 anos depois, em Carmo do Rio Verde, no dia 25 de janeiro de 2008, e marcou o início da sua fase de expansão. Foi, em seguida, para Porangatu, para atender as 16 pequenas cidades do seu entorno, como Bonópolis, Trombas, Montividiu do Norte, Campinaçu, Santa Tereza e Formoso, que não contam com agência bancária. Depois, Itaberaí, já numa estratégia para chegar às grandes cidades da região; e Faina, igualmente uma cidade pequena, sem agência bancária e que se mostrou viável apenas sete meses depois da instalação do seu Posto de Atendimento.
A expansão continua e os planos são muitos, como a inauguração, até 2017, de mais três Postos de Atendimento: em Itapuranga; na antiga capital, Goiás; e em Araguapaz, que também não tem agência bancária.
Em Vila Boa a receptividade tem sido marcante, ao unir as forças econômicas e políticas pela viabilização do Sicoob Do Vale, como a Câmara de Dirigentes Lojistas, Associação Comercial, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e outras entidades. Como há decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) de concentrar as agências bancárias no centro da cidade, os comerciantes se articularam e falaram com a prefeita Selma Bastos e com os vereadores, que liberaram a instalação do Posto de Atendimento fora dessa área, no Setor João Francisco, mais afastado e que aglutina 90% das atividades econômicas da cidade. A antiga Capital tem agências dos principais bancos brasileiros.
O Sicoob Do Vale é uma das Cooperativas que mais investem na formação e capacitação de seu pessoal. Vanderval já fez os cursos de pós-graduação em Agronegócio, pela Faculdade de Rubiataba; em Gestão de Cooperativas, pela Universidade Católica de Goiás; e MBA em Gestão Financeira de Cooperativas de Crédito, pela Fundação Getúlio Vargas.
O trabalho comunitário sempre foi forte em Rubiataba. Um dos expoentes dessa ação foi o então jovem Adilon de Souza, pensador e idealista, eleito o prefeito mais jovem da cidade, aos 22 anos, em 1968, e responsável pela criação da Cooperativa dos Produtores de Álcool de Rubiataba Ltda. (Cooper-Rubi), em 1984, que posteriormente montou uma usina de álcool.
A Cooperativa Agropecuária, que reúne os pecuaristas, dita o preço do leite na região, e sua atuação tem sido fundamental para manter o equilíbrio da bacia leiteira, pelo incentivo à atividade. A Cooperagro produz e fornece ração e comercializa insumos, como sal mineral e medicamentos. O leite é entregue também à indústria Manacá e a queijeiros, que produzem um queijo mussarela de qualidade.
Em 1997, com a eleição do prefeito Teodoro Ribeiro de Araújo e sua decisão em reativar a Exposição Agropecuária do município, o Sicoob do Vale teve presença decisiva no apoio à pecuária de leite e na melhoria genética do gado leiteiro e de corte. Concedidos no Parque Agropecuário, durante a exposição, os financiamentos, com taxas razoáveis, destinavam-se à aquisição de touros, tanques de resfriamento de leite, misturador de ração e, na carteira de combate à seca, ao plantio de milho, sorgo e cana. Também, proteinado para tratar do gado.
Com a livre admissão, o Sicoob Do Vale deu sequência ao trabalho de atender a tempo e a hora os seus cooperados, e ser eficiente na disputa com os grandes bancos, que dispõem de grande volume de recursos para oferecer.
Nessa linha, teve atuação importante também com as confecções, acolhendo as costureiras que trabalhavam em casa e tinham aumento da demanda, financiando uma segunda máquina de costura. Com a iniciativa, gerou mais emprego e renda.
A segunda lacuna sentida em Rubiataba era quanto à capacitação das pessoas, a formação profissional. Depois de estudar o tema e buscar alternativas, decidiram criar a primeira Cooperativa de Ensino Superior do Brasil, a Cesur, de Rubiataba. Foi a primeira a conseguir registro no MEC.
Igualmente, foi criada uma Cooperativa de Micro e Pequenos Produtores Rurais, reunindo hortigranjeiros, que implantaram uma feira de produtos orgânicos às quartas-feiras, a partir das 17h, no centro. São mais de 40 feirantes.
Outro exemplo de união foi a experiência moveleira, compra de madeira em conjunto; hoje restam em torno de 30 empresas.
Um importante trabalho de educação cooperativista, o Cooperjovem, foi realizado na parceria com o sistema OCB/Sescoop-GO, quando 4.800 alunos do ensino médio da cidade recebiam material didático, como cartilhas e livros, e manuais para os professores. O programa, que durou cinco anos, foi suspenso em 2015.
Outra iniciativa de repercussão positiva foi a participação do presidente do Sicoob do Vale, Vanderval Ribeiro, no Conselho Estadual de Cooperativismo, representando a OCB, por quatro anos (2011-2015), com os outros dois representantes, Aguilar Ferreira, da Comigo, e Neirimar Norberto de Sousa, da Uniodonto. Nessa participação, conseguiram importantes conquistas para o Cooperativismo, como incluir material sobre Cooperativismo no quinto ano do ensino básico e na grade curricular da Universidade Estadual de Goiás (UEG), que analisa a viabilidade de criação de curso de graduação sobre Cooperativismo.
Uma significativa experiência de educação foi realizada na Escola Estadual Gilvan Sampaio, durante três anos, a partir de 2011, com a montagem de uma cooperativa de limpeza, para monitoramento e fiscalização desse serviço, e distribuição de material didático do Sescoop-GO, que forneceu pessoal para orientar os professores e coordenadores. O trabalho envolveu alunos e professores e repercutiu positivamente, com as mães dos estudantes, sempre que possível, mostrando a sua importância, ao relatar a mudança de comportamento dos filhos em casa, que passaram a fiscalizar a limpeza e a não deixar roupas no chão.