Idealizado para apoiar os bancários aposentados de Goiânia em suas necessidades financeiras, mas que inicialmente, pelo reduzido número de possíveis beneficiários, quase se inviabilizou, o Sicoob Crediforte, primeira Cooperativa de Crédito Mútuo de Goiânia, enfrentou muitas barreiras no começo e logo teve que buscar alternativas. Os colegas que estavam na ativa não colaboravam com as iniciativas de divulgação do Cooperativismo de Crédito no interior das agências bancárias na Capital goiana e nem permitiam esse trabalho de sensibilização, que objetivava aumentar o quadro social. Outros, desconhecendo o funcionamento do sistema, queriam saber os benefícios da adesão, pois já tinham o seu banco, não iriam tirar a sua conta dele e não precisavam de uma nova instituição financeira.
Cansada das negativas, que tornavam desgastantes essas abordagens, a gerente Maria das Graças Cerqueira Vieira Silva (Gracinha) teve uma ideia, simples, que se revelou muito produtiva. Em 2003 decidiu convidar as mulheres dos cooperados para uma conversa sobre a Cooperativa, já que os maridos não explicavam como era e as deixavam em dúvida, e intitulou esse momento como um ‘Chá das 5’, ao estilo inglês. Para o primeiro encontro, na sede do Sicoob Crediforte, ela levou as xícaras, colheres e demais utensílios de sua casa, e, mesmo reunindo inicialmente apenas seis convidadas, teve ampla repercussão. A iniciativa cresceu, criaram novas atividades, sobre cultura, apresentação de pequena peça teatral ou uma exibição de dança, e o número de participantes também, tornando essas reuniões uma tradição. As mulheres dos cooperados começaram a levar suas filhas, noras e amigas, o que exigiu o aluguel de um espaço maior.
O trabalho avançou muito, o quadro social, naturalmente, acompanhou esse crescimento, com um detalhe muito especial: é a primeira e única Cooperativa goiana que tem 50% de mulheres como cooperadas.
A Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Bancários de Goiânia Ltda., criada em 21 de novembro de 1993 por 31 cooperados e com um capital social de R$ 3.100,00, começou a funcionar em agosto de 1994. Logo viram que eram poucos os bancários aposentados, mais de instituições públicas, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Na Assembleia Geral Extraordinária de 1º de novembro de 2013 foi dado um passo maior: transformou-a em Cooperativa de Crédito de Livre Admissão da Cidade de Goiânia e Entorno Ltda., o que permitiu o maior crescimento de seu quadro social, em especial a participação de empresas, como ressaltou o presidente Jair Bolsoni.
Com uma estrutura pequena e enxuta, o Sicoob Crediforte já apresenta dados expressivos, de acordo com o balanço de 31 de dezembro de 2015: Patrimônio Líquido de 15 milhões de reais; capital social de R$ 11,8 milhões; mais de 1.970 cooperados em seu quadro social; 28 milhões de reais em depósitos e empréstimos de R$ 26 milhões. A sua sede funcionava na Av. 85, na Galeria Javaés Center; depois comprou um casa muito bem localizada, na Av. Assis Chateaubriand, no Setor Oeste, com um eficiente sistema de segurança, que impediu duas tentativas de assalto, quando o alarme disparou.
No período acatou a fusão com a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuos dos Funcionários do Fisco do Estado (Sicoob Crediffis), o que lhe deu uma nova dinâmica, em termos de capitalização e de aumento do quadro social, onde instalou um Ponto de Atendimento (PA) e constrói a nova sede própria, na Av. 94, Setor Sul. Abriu em março de 2014 uma agência modelo na vizinha cidade de Abadia de Goiás, reivindicação dos políticos e da comunidade local, onde já começa a firmar a sua presença, em apoio às atividades produtivas, com foco no comércio. Vendeu a sede em Goiânia para se capitalizar; e tem planos de expansão: abrir um novo PA em Goiânia, na região Sudoeste, e outro na vizinha cidade de Aragoiânia, onde mantém contatos com empresários para viabilizar a nova unidade de atendimento.
Crediffis
Os elevados juros do mercado financeiro, de 7% ao mês, que chegavam a 100% ao ano e oneravam muito a aquisição de um bem, como um automóvel, levaram a Associação dos Funcionários do Fisco do Estado de Goiás (Affego) a enfrentar esse problema em meados dos anos 1990. Uma primeira solução encontrada foi criar a Caixa de Pecúlio Programado Affego (Cappa), que fazia empréstimos financeiros aos seus associados, atendeu bem as expectativas de todos, cresceu muito, transformando-se numa ‘bola de neve’, mas deixava dúvidas no aspecto legal, o que os levou a procurar uma nova alternativa. A sugestão foi conhecer o sistema cooperativista de crédito e investir nele: criou um grupo de trabalho, formado pelos auditores Antonio Divino da Conceição, Gilvan David e Márcio Soares, para estudá-lo e apresentar uma proposta. Um ano depois, a solução encaminhada foi aceita e era criada em 1999 a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores da Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás, com a sigla Crediaffego. Coordenador do GT, Antonio Divino foi eleito o primeiro presidente da entidade, que tinha 35 sócios-fundadores e começou a funcionar no dia 29 de outubro de 2002, na Avenida 83, Setor Sul, no prédio da Associação, com nove funcionários.
A Crediaffego trouxe tranquilidade aos servidores do Fisco, ao cobrar taxas de juros de 2,5% ao mês, que permitiam boa remuneração à Cooperativa, mantendo a sua estrutura de funcionamento, e um menor dispêndio de capital da parte do cooperado em suas transações financeiras. Na época, o cheque especial tinha uma taxa muito mais elevada, de 13% ao mês, e no financiamento bancário em 24 meses a pessoa acabava pagando três vezes pelo produto que adquiria. Ao reduzir as taxas de juros a Cooperativa cumpriu seu papel, colaborando para regular o mercado financeiro.
O segundo presidente da Crediaffego e que tem a conta corrente nº 1 da instituição foi o engenheiro e auditor fiscal Norden Follador Faria, que presidia a Affego quando da criação da nova entidade e foi o responsável pelo GT que propôs a Cooperativa de Crédito. Com uma visão social clara, ele defende que a Cooperativa tem o compromisso de assegurar melhores condições para os cooperados na área financeira, combatendo a exploração bancária; não deve visar lucros e nem ter sobras em excesso, para distribuição no final do ano. Dos 3.300 associados da Affego, em torno de 650 aderiram à entidade financeira. Como era segmentada, havia muita vinculação à Associação e em virtude de outros servidores públicos demonstrarem intenção de participar, os cooperados decidiram em 2008 alterar a razão social e a sigla, que passou a Crediffis.
O Banco Central passou a exigir maior volume de capital das Cooperativas, para dar maior segurança aos cooperados, e indicou, como alternativa nesse caso, a fusão com outras com melhor estrutura. A sugestão veio justamente quando liberou as Cooperativas para livre admissão, deixando de ser segmentada para acolher a todos os interessados em participar do sistema. Em 2013 a Crediffis optou pela sua fusão com o Sicoob Crediforte, o que atendeu as expectativas de ambos os lados.