Área prioritária para a conservação do Planeta e um dos biomas mais ameaçados, o Cerrado possui as maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo: Aquíferos Guarani, Bambuí e Urucaia, que abastecem as principais bacias hidrográficas do País. a caixa d’água do Brasil. Segunda maior formação vegetal brasileira, que se estendia originalmente por uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados, abrangendo dez Estados, hoje restam apenas 20% desse total.
Típico de regiões tropicais, apresenta duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Com solo de savana tropical, deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, abriga plantas de aparência seca, entre arbustos esparsos e gramíneas, e o cerradão, um tipo mais denso de vegetação, de formação florestal.
A presença de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) na região favorece sua biodiversidade.
Essa condição privilegiada, no entanto, não conseguiu, até agora, sensibilizar os parlamentares brasileiros para a necessidade de proteger o bioma, como já acontece com a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira.
Em 1995 foi apresentada no Congresso Nacional a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 115-A, que incluía o Cerrado na relação dos biomas protegidos; posteriormente, com o acréscimo da Caatinga, foi transformada na PEC 504/2010, que reforçou esse pleito. O Senado já aprovou o texto dessa PEC, que coloca a Caatinga e o Cerrado no mesmo nível de importância dos demais biomas do Brasil; e agora falta a Câmara dos Deputados votá-la.
Questionado a respeito, no dia 1º deste mês, o presidente da Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves, comprometeu-se em colocá-la, até o fim do mês, na pauta do plenário, onde precisa ser votada em dois turnos. Para que isso aconteça é fundamental que todos nos mobilizemos e mobilizemos os parlamentares goianos para apoiar e dar seu voto à PEC 504/2010.
Estima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos vivam no Cerrado. Essa riqueza biológica, porém, é seriamente afetada pela caça e pelo comércio ilegal. É o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. Atualmente, vivem na área cerca de 20 milhões de pessoas, uma população majoritariamente urbana e que enfrenta problemas como desemprego, falta de habitação e poluição, entre outros. A atividade garimpeira contaminou os rios de mercúrio e contribuiu para seu assoreamento; a mineração favoreceu o desgaste e a erosão dos solos. Na economia, também se destaca a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começou a se expandir principalmente a partir da década de 1980. Nos últimos trinta anos, a pecuária extensiva, as monoculturas e a abertura de estradas destruíram boa parte do Cerrado. Hoje, menos de 2% estão protegidos em parques ou reservas.
O mascote da Copa do Mundo de Futebol deste ano, o tatu bola (Tolypeutes tricinctus), que representa a rica biodiversidade brasileira, para citar um exemplo, ocorre exclusivamente na Caatinga e no Cerrado, e está ameaçado de extinção.
Juntos, esses biomas englobam 14 Estados, 1.927 municípios (34% dos municípios brasileiros) e o Distrito Federal, e abrigam 30% da população do País.
São razões suficientes para que tenham condições que assegurem a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida da população, com tratamento diferenciado no tocante a sua utilização, coibindo práticas predatórias na exploração dos recursos naturais.
Jales Naves, jornalista, é superintendente executivo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos de Goiás (Semarh)
Jornal “O Popular“, de Goiânia, GO, edição de 21.08.2014, página de Opinião.