Um dos governadores que mais realizaram por Goiás, em todos os aspectos, sejam físicos, materiais, históricos, de resgate da cidadania, enfim, tudo aquilo que é possível fazer por seus cidadãos, o engenheiro Otávio Lage de Siqueira estaria completando 89 anos no dia 28 de dezembro, se estivesse vivo. Ele faleceu em 2006, num acidente de carro, aos 81 anos, quando ia, dirigindo ele próprio o seu veículo, trabalhar. Eram 7h30. Iria receber, naquela manhã, a visita do secretário da Fazenda do Estado, Oton Nascimento Júnior, uma rotina para ele, que tinha prazer em mostrar a visitantes os resultados do trabalho que realizou ao longo da vida, e a destilaria Jalles Machado era um dos seus melhores exemplos.
Passados sete anos de seu falecimento e já com uma margem de tempo que permite uma reflexão sobre a sua trajetória, sua obra e sobre ele mesmo, a família decidiu escrever sua história. Mostrar quem foi ele, o que fez nas diversas atividades que abraçou, como se relacionava com a família, a admiração pelo pai, Jalles Machado, como as pessoas o viam e o legado que deixou.
Convidado pelo prefeito de Goianésia e seu filho mais velho, Jalles Fontoura de Siqueira, para essa importante empreitada, saí a campo para levantar os dados. Primeiro, fui à biblioteca das principais universidades goianas e, surpresa, praticamente nada encontrei, nem mesmo o relatório de sua gestão. Na Universidade Federal de Goiás não há nenhuma obra que se refira a ele, apenas uma dissertação de Mestrado, mesmo assim não disponível naquele momento.
O trabalho evoluiu, foi possível obter dados muito interessantes, alguns depoimentos e, naturalmente, fatos negativos, estes não cometidos por ele e sim à interpretação de acontecimentos que lhe são relacionados. Um descuido para com a história, diríamos, e que a família ainda não decidiu como se posicionar a respeito. Afinal, só em janeiro vou entregar os originais para uma primeira leitura. O mais grave encontrei no site da Assembleia Legislativa de Goiás, onde está escrito que ele tinha fechado o Legislativo goiano em 1969. Conversei com vários servidores a respeito e não consegui documentos comprovando essa decisão. Uma servidora graduada me informou que o texto teria sido embasado em livro editado pela própria Assembleia.
Ninguém que com ele conviveu nessa época e com quem tive oportunidade de conversar tem lembrança desse fato. Um, o ex-deputado Eurico Barbosa, que foi líder do MDB na Assembleia naquele período e cassado pelos militares, foi categórico: Otávio Lage não teve nenhuma responsabilidade nesse episódio. Realmente, o Legislativo goiano foi fechado em 1969 pelo presidente da República, marechal Artur da Costa e Silva, por meio do Ato Complementar nº 49, do dia 27 de fevereiro, por motivos justificáveis: corrupção desse Poder constituído.
A verdade é que se comete uma grande injustiça com um dos maiores homens públicos que Goiás teve, sempre preocupado em realizar, um tocador de obras, como muitos se recordam, e o governador que introduziu Goiás na era moderna, investindo em infraestrutura. Até seu governo, eram poucas as cidades com luz, existiam menos de 200 quilômetros de rodovias estaduais asfaltadas, e ele fez uma revolução: investiu em educação, construindo mais de 10 grandes colégios em Goiânia, e por diversos municípios goianos, além de equipar as escolas, ampliar o quadro de professores e os qualificar. Quadruplicou a produção de energia elétrica, tornando a Celg uma empresa vendedora de energia, que abastece Brasília e levando luz a todas as cidades; asfaltou mais de 600 km de rodovias, fazendo a ligação entre municípios e entre esses à BR-153, permitindo criar relações comerciais mais amplas, saindo do primitivo sistema de trocas. Este é apenas um pequeno retrato do que ele foi e por isso defendo que se resgate, de imediato, esse legado, começando por fazer o Poder Legislativo goiano corrigir o equívoco histórico que comete.
Artigo publicado no jornal O Popular de 26 de dezembro de 2013, pág. 7/Opinião.