Giró e Eurípedes Naves Borges (Foto de Débora Naves Sato)
A missa de sétimo dia em homenagem ao meu amigo e irmão Eurípedes Naves Borges foi mais longa do que se esperava e com um erro que ele, naturalmente, iria reclamar.
É que se lembrou na celebração da manhã deste domingo, dia 12, na Igreja Matriz de Campinas – que estava lotada –, a Lei Áurea (Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888), que declarou extinta a escravidão no Brasil, e houve a participação de grupos de congada, com seus rituais e cânticos. A cerimônia durou mais do que os atos normais de domingo.
O erro, que teria deixado Eurípedes chateado, foi no momento de citar as pessoas lembradas naquele momento, e seu nome foi pronunciado como Neves, colocando seu principal sobrenome com “e” ao invés de “a”, e ele provavelmente protestaria muito.
É que os Naves foram a grande bandeira de sua vida, ao ser responsável pelo trabalho de organização, incentivo e divulgação da família em Goiás, já com mais de 20 anos e que rendeu, nesse período, numerosas reuniões, discussões, encontros, congraçamentos e, agora, livros – o primeiro vai contar a história da família, há mais de 370 anos no Brasil e sua grande contribuição à nação; outro, a construção da árvore genealógica, já com 13 gerações identificadas; um terceiro falará sobre a cidade emancipada por um Naves; e outros três terão como base o boletim “Notícias de Naves”, com relatos e causos da família.
Um dos maiores conhecedores dos Naves, contando detalhes sobre histórias que ele vivenciou, Eurípedes foi o protagonista principal de uma jornada de descobertas sobre familiares e de encontros. Essa busca por parentes levou-o a ler, diariamente, o jornal “Daqui”, e começava pelo obituário; encontrado algum Naves que faleceu no dia anterior, a providência seguinte era me telefonar para que pudesse identificar a pessoa e levantar sua trajetória.
Esse trabalho cresceu muito e vai, finalmente, tornar acessível a todos os familiares a história dos Naves, que está escrita há mais de 12 anos, teve um lançamento extraoficial no II Encontro Nacional da família que realizamos em 2012, em Araguari, MG, com uma tiragem reduzida, e agora o livro será publicado com maior número de exemplares.
Eurípedes foi um dos melhores técnicos em redes elétricas do país, começou na atividade na antiga Celg, nos anos 1960, trabalhou em multinacional e teve uma empresa especializada, participando da montagem de diversas hidrelétricas no Brasil e países vizinhos.
Admirador do trabalho na infraestrutura realizado pelos militares que assumiram o poder federal em 1964, era um crítico dos problemas sociais, da corrupção desenfreada e da omissão das autoridades públicas diante do difícil quadro que a nação enfrenta, e se mostrava desesperançado.
Gostava de conversar, ligava sempre para alguns amigos de sua confiança e estava desgostoso com o que enxergava, apontando soluções e querendo outra direção para o país.
Tínhamos pelo menos uma conversa semanal, quando ele começava expondo seu ponto de vista sobre um fato relevante daquele dia, e sua compreensão dos problemas divergia de muitos. Dentre suas vontades, escrever um livro, naturalmente dando sua visão pessoal sobre uma série de eventos ao longo da história.
Era muito apegado à família, casou-se duas vezes, e dos casamentos nasceram cinco filhos, seis netos e três bisnetos.
Com a primeira, Terezinha Gomes da Silva, goiana de Catalão, teve duas filhas, ambas assinando Naves Borges, que estudaram até o ensino médio: Gainsa, também nascida em Corumbaíba, trabalha na Organização das Voluntárias de Goiás, em Goiânia, é viúva, tem três filhos casados e três netos; e Jackeline, goianiense, casou-se duas vezes, tem dois filhos, e mora e trabalha atualmente em Heemskerk, na Holanda.
Com Girofal Barreto Alencar Naves, baiana de Irecê, professora, três filhos goianienses, todos assinando Naves de Alencar: Calvet, graduado em Zootecnia pela Universidade Católica de Goiás e em Informática, atualmente faz pós-graduação; Débora formou-se em Direito pela Universidade Católica de Brasília (UCB), é analista judiciário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, casada com Eduardo Makoto Sato, perito criminal da Polícia Federal, e eles têm um filho, Felipe Yutaka Alencar Sato, que cursa Engenharia Eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, SP; e Viviane formou-se em Fisioterapia pela UCB, atuava na área quando conheceu em Brasília o peruano Moisés Ávila Roldán, jornalista, que trabalha para a agência de notícias francesa France-Presse, casaram-se e passaram a viajar a trabalho dele – já ficaram três anos no Peru, 2,5 anos em Cuba, dois no Panamá e agora estão nos EUA.
Esse trabalho sobre os Naves começou sem um planejamento, e inicialmente iria discutir o apoio a um primo que se candidatara a Deputado Estadual, e avançou de forma significativa, inclusive tecnicamente, como a construção da genealogia. Isso o deixava muito orgulhoso, dizendo que era uma das poucas famílias com uma história como a da nossa, com detalhes interessantes. Lembrava que essa trajetória começou em 1650, ainda na época do Brasil Colônia, o que torna nossos pioneiros como colonizadores.
Sua ausência já é sentida por todos, pela forma como abraçou a causa, pela sua dedicação ao projeto e pelo direcionamento das ações, que permitiram esse avanço, que contou com colaboradores de diversas regiões do país. Dentre esses, a professora universitária Maria Helena Fernandes Cardoso, de Uberlândia, MG; Nilson N. Naves, atualmente em Balneário Camboriú, SC, que fez a árvore genealógica; o advogado Abilon Naves de Campos Silva, de Araçatuba, SP, que criou um blog de grande repercussão; Osvaldo Coelho, de São Paulo, que levantou importantes dados de um núcleo da família; e eu, como jornalista e historiador.
Tem sido uma construção coletiva, que começou por iniciativa de Eurípedes Naves Borges, que sempre tinha um causo para contar dos parentes que conhecia, e eram muitos. Ele nasceu em Corumbaíba, GO, primeira cidade por onde chegaram os parentes de Minas Gerais e que se tornou uma das cidades com maior número de familiares.
Agora, ficaram a saudade, o exemplo, o entusiasmo e os resultados desses 20 anos de pesquisas, importantes descobertas e muito material, que será transformado em livros.
Jales Naves, jornalista e escritor, presidiu a Associação Goiana de Imprensa (AGI) em dois mandatos consecutivos (1985-1991) e integra a Academia de Letras e Artes de Caldas Novas (Cadeira nº 30), o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (Cadeira nº 34) e o Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado.