Autor doa exemplares para a biblioteca da entidade e acadêmicos cobram uma segunda edição da obra
A Academia Goiana de Letras (AGL) promoveu um café da manhã na quarta-feira, dia 14, em sua sede, para receber o empresário Jalles Fontoura, filho de ex-governador Otávio Lage, e o jornalista Jales Naves, autor do livro “Otávio Lage – Empreendedor, Político, Inovador”, que foram doar exemplares da obra para a biblioteca da AGL.
Foram recebidos pela presidente Leda Selma, ex-presidentes Ursulino Leão e Eurico Barbosa e pelos escritores Itami Campos e Itaney Campos. O livro foi elogiado e todos perguntaram quando sairá a sua segunda edição.
Jales Naves levou ainda para a AGL exemplares do livro “De Meia Ponte a Pirenópolis – Cuidando do Patrimônio Cultural”, de Laís Aparecida Machado e Jézus Marco de Ataídes.
Academia Goiana de Letras
Criada para a defesa da língua portuguesa e da literatura brasileira, a Academia Goiana de Letras (AGL) tem sido, ao longo de sua história, um importante instrumento de proteção, apoio e incentivo às atividades culturais em Goiás. Na instalação oficial, no dia 19 de abril de 1939, em solenidade no Palácio das Esmeraldas, houve a posse de seus primeiros membros, tendo na presidência o interventor Pedro Ludovico Teixeira. No ato inaugural, o coordenador do grupo de intelectuais que lutou pela criação da entidade, professor Colemar Natal e Silva, eleito 1º vice-presidente, fez um relato histórico sobre o nascimento da Academia.
Essa trajetória começou um pouco antes: no dia 12 de outubro de 1904, na cidade de Goiás, antiga capital, foi criada a Academia de Letras de Goiás, por iniciativa da jovem Eurídice Natal, uma sonhadora de apenas 19 anos de idade, que foi eleita Presidente. A posse dos membros e da Diretoria ocorreu à semelhança da AGL, na sede do Governo estadual, o então Palácio Conde dos Arcos, com a presença do governador do Estado, José Xavier de Almeida. Nesse dia, com eloquência, a jovem Presidente fez elogios ao seu patrono Bartolomeu Bueno da Silva.
No baile à noite, na casa do médico José Netto, Eurídice adentrou no salão pelo braço do poeta Joaquim Bonifácio Gomes de Siqueira, eleito secretário perpétuo da Academia, ao som de músicas tocadas pela famosa Banda de Força Pública. Fato inusitado e romântico aconteceu quando as senhoritas Rosentina de Sant’Anna, Ana Jardim, Zélia Guedes, Dolina de Barros, Genoveva Santana, Maria Eliza Pereira da Silva, Semíramis Macedo, Ermelinda Ramos e Tozinha da Luz jogaram pétalas brancas de rosas sobre a homenageada. Antes de iniciar o baile, o acadêmico Marcelo Silva, em nome dos seus pares, discursou com desenvoltura e mereceu os aplausos de todos os presentes.
Na verdade, tudo aconteceu de maneira inusitada. Na época, Goiás era uma região mergulhada na economia agropastoril, com uma população da capital, que se aproximava de 14 mil habitantes, dotada de poucas preocupações em congregar o espírito intelectual; e que tinha como base, no seio de uma sociedade machista, o mando autoritário do coronelismo. A Academia quebrou um tabu histórico e abriu espaço à mulher, discriminada e segregada, como destacou o historiador Brito Broca, em sua obra “A vida literária no Brasil. 1900”, de 2004. Registrou que, enquanto a Academia Brasileira de Letras, fiel ao modelo francês, fechava as portas às mulheres, a modesta congênere de Goiás “não só admitia uma mulher como a elegia, por aclamação, Presidente do cenáculo”.
Nesse período, as instituições culturais eram vistas com indiferença e, muitas vezes, com hostilidade em determinados setores da sociedade local. Mesmo sendo uma região de parcos recursos, já existia na antiga Vila Boa um congraçamento familiar de encontros com amigos e interessados em melhorar o conhecimento intelectual, em reuniões particulares nos lares vilaboenses, para discutir sobre literatura, música, teatro e outros setores culturais. Eram também comuns, na época, as cantigas das modinhas e os decantados saraus, que duravam horas de alegria e boa convivência.
A Academia teve vida curta e seu funcionamento durou apenas quatro anos. Eurídice viria a se casar com o acadêmico Marcelo Silva dois anos depois e em 1907 nascia o filho Colemar, que daria continuidade aos sonhos da mãe. O professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, em seu “Anuário Histórico, Geográfico e Descritivo do Estado de Goiás”, publicado em 1910, registra que, por dois anos, a Academia não se reuniu, o que é confirmado, também, pelo acadêmico Basileu Toledo França, em sua obra “Cadeira nº 15” (Gráfica Oriente, Goiânia, 1971).
A AGL participa ativamente da vida cultural de Goiás, contando com as mais importantes figuras da literatura, cujas obras, muitas delas, tornaram-se clássicos de consulta obrigatória para os estudiosos. Como registrou o acadêmico Hélio Moreira, quem visita suas instalações e observa o painel fotográfico das figuras (acadêmicos e patronos) “que adorna nossa galeria sentirá os influxos positivos da memória viva das letras goianas; quantas páginas da nossa literatura podem ser sugeridas pela lembrança das suas presenças”. “Somos orgulhosos em poder preservar esta memória, principalmente proteger o acervo bibliográfico destes homens e mulheres que escreveram e continuam a escrever a nossa história, a história da literatura goiana”, disse.
A Academia realiza sessões festivas, com presença de grande numero de convidados, e participa de manifestações da cultura goiana, como atividades intramuros (lançamento de livros) e recepções a caravanas de estudantes da rede pública, com os quais, além da distribuição de obras do acervo, discute principalmente a literatura goiana, com a presença de acadêmicos. Fora do recinto da sede participa, com exposição e venda de livros dos acadêmicos da AGL, de bienais e mostras de livros em diferentes espaços.
A AGL é presidida, na atualidade, pela escritora Leda Selma.