Antônio Matilde Naves
Mineiro de Itaúna, onde nasceu no final do século anterior, possivelmente em 1894, Ângelo da Guarda Naves viveu, de forma intensa, os seus 86 anos. Foi mascate, artesão, tropeiro, comerciante ambulante e contador de históricas, fazendo longas viagens. Ia até Benfica, no município de Juiz de Fora, MG, 283 km de Belo Horizonte, para buscar sal, soda, querosene e outros insumos inexistentes em sua região. Ao longo do tempo ganhou apelidos carinhosos, que derivavam de seu nome: Anjo do Velho Messias, em homenagem ao seu pai, Sô Anjo, Anjo Tropeiro, nas comunidades de Pedra Negra e Caetano Preto, Anjo Cambista e Anjo da Guarda na cidade que o acolheu, Pará de Minas, MG.
Na época, segundo contava, os tropeiros viajavam cerca de 60 léguas, em torno de 360 km. Uma rancharia (viagem de ida e volta) durava de três a quatro meses, de 100 a 120 dias. Sua tropa era formada por 12 tropeiros com seus cavalos e éguas, mais 25 muares – mulas e burros de carga – e tudo o que acompanhava aquele estilo de vida. A comitiva era organizada em forma de comboio e cada qual desempenhava sua função própria e típica. Na bagagem dos cargueiros levava e trazia mercadorias as mais diversas para revenda e troca nos pousos; negociava de tudo, levando produtos da região e trazendo novidades e pedidos de seus clientes.
Quando se mudou para Pará de Minas, já não exercia mais o ofício de tropeiro. Atuava como vendedor ambulante de diversas mercadorias, como relógios, chapéus e canivetes, e bilhetes de loterias, como cambista. Trabalhava também como artífice, colocando alças ou asas em latas, transformando-as em copos.
Família
Ângelo era o primogênito dos 10 filhos de Messias Naves e Alfonsina Naves – depois vieram João da Mata Naves, Antônio Nicolau Naves (Nico), Francisco Sacerdote Naves (Chico da Mata). José Satil Naves (Zeca), Messias Cândida Naves (Tia), Maria das Dores Naves, Alfonsina Naves (Bilica), Ana Naves (Sinhana) e Francina Naves.
Casou-se com Maria Leopoldina de Jesus, nascida em Oliveira, MG, e tiveram oito filhos: José Inocente Naves, Alcides Eugênio Naves, Ilda Engraça Naves, Antônio Matilde Naves, Vandique Alexandre Naves, Raimundo de Oliveira Naves (Cacitete), Expedito Naves (Dito) e Maria Nazaré Naves. Os filhos foram criados entre os distritos de Pedra Negra, município de Bom Sucesso, MG, de Caetano Preto, em Para de Minas, e Itaúna, no município homônimo. Faleceu aos 86 anos, em 1980.
Tõe do Anjo
Quarto dos oito filhos de Ângelo e Maria Leopoldina, Antônio Matilde Naves, o Tõe do Anjo, casou-se com Maria dos Anjos de Oliveira, dona de casa, e tiveram 11 filhos: Alair, Maria de Lourdes, que faleceu ainda criança, Alvair, Adilson, Amauri, Nilza Maria, Amarildo, Márcia Maria, Adailton, Anísio Domingos e Regina Maria. Também nascido em Itaúna, mudou-se para Pará de Minas no começo dos anos 1960. Era cambista, trabalhando como vendedor de bilhetes de loteria. Faleceu no dia 8 de dezembro de 1977, deixando a filha caçula, Regina Maria, com sete meses. Maria dos Anjos ficou viúva com 10 filhos aos 37 anos de idade e criou todos eles com bravura e muita fé. Tem hoje 84 anos, 13 netos e dois bisnetos.
Um início de incêndio na casa em que residiam consumiu documentos e anotações sobre a família, além de fotos e outros pertences.
O primogênito Alair Oliveira Naves (foto), que nasceu em Pará de Minas, em 27 de julho de 1962, optou por estudar e seguir a carreira docente na área de filosofia e sociologia. Casou-se com Laura Helenice Ferreira, natural de Piedade das Gerais, MG, e que passou a assinar Laura Helenice Ferreira Naves; Alair adotou o sobrenome dela, passando a assinar Alair Oliveira Ferreira Naves. Eles têm dois filhos e residem em Belo Horizonte. Pesquisador, reúne num livro os relatos, experiências e histórias contadas pelo avô e pelos tios sobre as rancharias e “a vida do Anjo Tropeiro, o Anjo do Velho Messias, o Anjo da Guarda mineiro”.
Alvair Domingos Naves nasceu no distrito de Caetano Preto e é eletricista numa empresa da cidade; Adilson Naves é solteiro e tem limitações em relação à saúde; Amauri Naves trabalhava na empresa Itambé, aposentou-se e agora mexe com roça; Nilza Maria foi casada e tem três filhos, que residem em Pará de Minas; Amarildo Naves mora em Bom Jesus do Pará, distrito de São José da Varginha, tem um filho e trabalha numa granja no distrito de Conquista; Márcia Maria Naves, solteira, faleceu em março de 2023; Adailton Naves tem duas filhas e é professor de inglês no município vizinho de Nova Serrana, MG; e Regina Maria Naves também tem duas filhas.
Policial Penal, que trabalha na Penitenciária local e nos momentos de folga cuida de seu rancho num condomínio que fica uns 30 km de Pará de Minas, às margens do rio Paraopeba, Anísio Domingos Naves nasceu em 1975, tinha dois anos quando o pai faleceu e se lembra pouco dele. Foi casado, tem dois filhos e ele e o mais velho completaram o ensino médio na Escola Estadual Fernando Otávio. Vitor Libério Ribeiro dos Santos Naves, 21 anos, é motorista e casado com Isabele Cristina Araújo Naves, e o mais novo, Vinícius de Oliveira Santos Naves, 15 anos, faz o primeiro ano do II Grau.