Nephtali Naves
Simples e humilde, tratando a todos com muita atenção e carinho, Nephtali Guimarães Naves tornou-se uma legenda em Araguari, MG. Farmacêutico formado, foi trabalhar na Drograsil; na época, os médicos, depois da consulta, receitavam aos pacientes os medicamentos que eram feitos em farmácia. Certo dia, quando pegou uma receita e leu a dosagem, que considerou exagerada para uma criança, sentiu um vento forte, como que o alertando para o perigo do medicamento ter o efeito contrário e prejudicar o pequeno paciente. Essa sensação se repetiu outras vezes e, em todas, ele tratou de reduzir a dosagem, que resolveu o problema do doente.
A partir desse momento começou a firmar nele uma convicção que, na época, era muito criticada, principalmente para ele que vinha de uma família muito católica: a opção pelo espiritismo, pela doação ao próximo, de forma desprendida, e que ele logo assumiu, realizando um importante trabalho na cidade e na região. Fundou, com o sobrinho Josino Bittencourt, o Centro Espírita Caminho da Luz, que era a sua base de atuação.
Desde essa época passou a questionar as receitas. Muito meticuloso, explicava às pessoas a razão de suas dúvidas, produzindo as dosagens de acordo com esse sentimento que passou a prevalecer nesses momentos. O fato logo se espalhou, com alguns pais o procurando até mesmo sem receita, para que ele indicasse o melhor tratamento para seus filhos, e mesmo para adultos.
Era sempre atencioso, com todos. As mães chegavam com seus filhos para consultar com ele, que os colocava no balcão, e começava a conversar, a ouvir os pequenos pacientes, tentando interpretar o sentimento deles, para depois passar a receita, que ele mesmo aviava. Logo, a própria farmácia montou ali um pequeno consultório, para que melhor pudesse atender as pessoas que o procuravam.
Com o tempo, essa procura só foi aumentando, criando esperanças nas pessoas, que passaram a ir ao seu encontro diretamente na farmácia, em busca de tratamento para males que angustiavam, e ainda angustiam, muitas pessoas, como o câncer. Isso o levou a criar um medicamento, a partir de rosas brancas, contra a doença que, para muitos, representou um novo alento nessa batalha. A garrafada, como passou a ser conhecida, teve ampla repercussão positiva, logo recebendo pedidos de todas as regiões do País. Também para a doença de Chagas ele fazia um preparado, com folha de babaçu, que paralisava aquele mal.
Numa de suas visitas freqüentes ao tio, quando ficava de longe vendo-o atender aquela longa fila de pessoas, Luiz Antônio Naves lembra que ele o convidou a irem ao Centro Espírita, onde produziria um remédio. Lá chegando, reuniu os ingredientes e os colocou numa garrafa, explicando que deveria balançar forte, com os braços, “para misturar bastante”, dizia, pacientemente, explicando que era para conseguir uma efetiva combinação dos produtos.
Noutra visita, o sobrinho folheou o fichário dele e ficou admirado: eram muitas as pessoas já atendidas, algumas desenganadas em atestados médicos, e que, a partir do medicamento, conseguiram reverter aquela delicada situação.
Nephtali praticamente não saiu de Araguari. Casou-se com Ordália e tiveram três filhos: Márcio, Ami e Décio.
Quando completou 90 anos brincou com os familiares, dizendo que estava bem de saúde, mas já pronto para “desencarnar”, como os espíritas se referem à morte.
Sua morte chocou a cidade. Ele manifestara a alguns amigos que estava preocupado com a quantidade de motocicletas em Araguari e os problemas que causavam, com manobras arriscadas que punham em risco a vida das pessoas. Como numa premonição, ele próprio seria uma das vítimas desses motoqueiros. Aos 92 anos, já não mais dirigindo, procedera naquele domingo como fazia há tempos, saindo para almoçar fora com as irmãs; na volta, depois de deixá-las em casa, como de costume, o motorista atravessa a ilha da rua para atingir mais rapidamente a sua casa e, nesse momento, o carro, uma Belina já bem usada, apagou. O motorista desceu para verificar o que ocorrera e, como estava demorando, Nephtaly e Ordália resolveram descer e seguir a pé, pois estavam próximos de casa. Quando passavam por trás do carro veio uma moto e os atropelou, de uma forma estúpida; Nephtaly, quis o destino, morreu na hora, tendo Ordália quebrado os dois braços e o rosto, pois caiu de frente no asfalto, não se recuperando depois desse acidente.
Ele, que ajudou a tantos na superação do sofrimento causado pelo câncer, com suas garrafadas, por ironia do destino assistiu o irmão Diomar lutar desesperadamente, por mais de dois anos, até ser vencido pela doença. Outra ironia: soube-se depois que o pai do motociclista que o atropelou tinha feito tratamento contra o câncer utilizando a garrafada de Naphtaly, e que gostava muito dele.
O velório mobilizou a cidade e a região; o enterro, num clima de muita emoção, foi considerado um dos maiores que Araguari já viu.
Fonte: Boletim “Notícias de Naves”, de Goiânia, GO, edição nº 28, de 10.07.2006