Ao lado da professora Rosana Borges, Francisco entrega os exemplares ao presidente do IHGG, Jales Mendonça (Foto de Nelson Santos)
Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal de Goiás, por onde se graduou em Jornalismo em 1983 e defendeu sua dissertação de mestrado na Faculdade de Informação e Comunicação em 2018, o jornalista Francisco Barros doou ao Instituto Histórico e Geográfico de Goiás 20 edições, datadas de 1957 a 1961, do jornal “Ecos do Tocantins”. Criado em Pium, então no Estado de Goiás, em 1934, 20 anos antes da emancipação do município, o periódico, no formato tabloide, 16 páginas, era quinzenário e tinha como editor Trajano Coelho Neto, que foi eleito Prefeito da cidade e assassinado quando ocupava o cargo, em abril de 1961, tendo o jornal dado cobertura a essa tragédia.
O Jornalista ganhou os exemplares de seu irmão Carlos Antônio Gomes Barros, cujo sogro tinha gráfica e editou o jornal, e aproveitou para entregá-los pessoalmente ao presidente do IHGG, Jales Guedes Coelho Mendonça, no lançamento nesta quinta-feira, dia 16, no auditório Augusto da Paixão Fleury Curado, do livro “História cultural da Imprensa goiana no século XIX”, que tem como uma das autoras a professora Rosana Maria Ribeiro Borges, sua orientadora na dissertação de mestrado. A escolha do Instituto para a doação é que suas pesquisas foram feitas na hemeroteca do IHGG, onde existiam edições dos jornais “Folha de Goiaz” e “O Popular”, dois dos principais jornais de Goiânia em 1954, ano de sua pesquisa de mestrado.
“Nossa memória está nos jornais”, afirmou, ao destacar que esses veículos mostraram as diferenças políticas em cada lugar e divulgavam os candidatos a cargos públicos, citando o caso de Mauro Borges, quando pleiteou a Governadoria do Estado, com uma foto sua em algumas edições.
“Agradecemos este belo ato do jornalista e mestre Francisco Barros de doar esses exemplares do jornal “Ecos do Tocantins” para a hemeroteca do IHGG, ampliando nosso acervo e favorecendo toda a sociedade, pois a pessoa terá acesso onde estiver, seja em Goiás ou no Japão, facilidade que a internet nos trouxe”, afirmou Jales Mendonça. “Que sirva de exemplo para quem tenha coleções de jornais e revistas guardados em casa e queira torná-los acessíveis a todos os pesquisadores”. A hemeroteca do Instituto é considerada atualmente a maior e mais completa em periódicos editados em Goiás, já tendo suplantado a própria Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro, até então considerada com maior volume de publicações goianas.
Dissertação
A dissertação de Francisco Barros, na qual trabalhou durante cinco anos, teve como foco a realização na então jovem Capital goiana, de 14 a 21 de fevereiro de 1954, no Cine Teatro Goiânia, do I Congresso Nacional de Intelectuais, que recebeu cerca de 300 personalidades de todo o país e mais nove delegações estrangeiras: Argentina, Chile, Costa Rica, Haiti, Itália, Paraguai, Portugal, Senegal e Uruguai. Dentre os presentes, o poeta e diplomata chileno Pablo Neruda e o já consagrado escritor Jorge Amado.
O evento reuniu artistas plásticos, cineastas, atores, músicos, professores e juristas que estavam entre os maiores intelectuais da época. “Foi o último evento desse porte realizado no Brasil. Antes havia acontecido outras quatro edições: em São Paulo, em 1945; Belo Horizonte, 1947; Salvador, 1950, e em Porto Alegre, 1951, presidido por Graciliano Ramos”, comentou. O encontro da Capital gaúcha deliberou que o evento seguinte seria em Goiânia. “Não somente com os escritores, como foram as outras edições, e por isso ganhou o nome de I Congresso de Intelectuais”.
Entre os presentes das delegações internacionais, Baltazar de Castro, na época presidente da Câmara dos Deputados do Chile; Volodia Teitelboim, também escritor e político chileno; Joaquín Gutiérrez, escritor da Costa Rica; Jesualdo Sosa, escritor uruguaio; Carlos Garcete e Elvio Romero, escritores paraguaios; e Herminio Giménez, maestro e compositor paraguaio.
Estiveram em Goiânia os cineastas Lima Barreto, diretor do filme “O Cangaceiro”, que recebeu premiações internacionais, e Alberto Cavalcanti, diretor de “O Canto do Mar”; os escritores Orígenes Lessa, José Geraldo Vieira e Breno Acioli; os artistas Alfredo Volpe, Bruno Giorge, Carlos Scliar, Djanira, Eduardo Alvin Correia, Mario Gruber, Mario Zanine e Osvaldo Goeldi; as atrizes Maria Della Costa e Ruth Souza, grandes nomes do teatro e do cinema; cientistas, teólogos, folcloristas e jornalistas, entre outros segmentos da cultura nacional.
De Goiás participaram os escritores Ada Curado, Afonso Félix de Souza, Amália Hermano, Bernardo Élis, Eli Brasiliense, Francisco de Brito, Gerson de Castro Costa, Gilberto Mendonça Teles, Guilherme Xavier de Almeida, Haroldo de Brito, José Godoy Garcia, José Luiz Bittencourt, Maximiano da Mata Teixeira, Oscar Sabino Júnior e Regina Lacerda; e os artistas plásticos Antônio Henrique Péclat, Gustav Ritter e Luiz Curado.
O congresso, considerado único em sua área, pelo formato adotado, aprovou quatro resoluções, que sintetizaram as preocupações das delegações presentes: “O povo brasileiro possui uma cultura nacional característica e vigorosa que deve ser preservada; incentivo ao intercâmbio entre todos os países; defesa das liberdades democráticas; e a exigência de meios materiais para expressão e divulgação do pensamento e da cultura”.