Militante da Ação Libertadora Nacional, o advogado Paulo de Tarso Celestino da Silva, goiano de Morrinhos, onde nasceu em 1944, foi preso em 12 de julho de 1971. Tinha 27 anos, foi torturado e assassinado na Casa da Morte, em Petrópolis, por militares do Centro de Informações do Exército. Agora, 54 anos depois, a 1ª Vara Federal de Petrópolis decidiu responsabilizar dois ex-militares desse CIE, Rubens Gomes Carneiro e Antônio Waneir Pinheiro Lima, por esse crime, de sequestro, tortura e desaparecimento do guerrilheiro da ALN.

De acordo com o jornalista Euler Belém no “Jornal Opção’, de Goiânia, a decisão do juiz federal Reili de Oliveira Sampaio, publicada no dia 1º deste mês, concluiu que os réus foram responsáveis pelas graves violações de direitos humanos na Casa da Morte. “Clandestino, mas “oficial” — a presença de militares assim o consagra —, o aparelho era letal. Uma vez lá só se saía morto. Era a determinação do comando militar”.

Filho de Pedro Celestino da Silva Filho e Zuleika Borges Pereira Celestino, Paulo de Tarso era neto paterno de Durvalina Rodrigues Naves. Ele tinha dois irmãos, ambos falecidos no mesmo ano, 2011: o mais velho, Pedro Celestino Neto, era de 1942; e Gilka Maria, a caçula, de 1948.

Trajetória

Paulo de Tarso concluiu o ensino médio no Colégio Universitário da Universidade Federal de Goiás em 1962. Sete anos depois, aos 23 anos, finalizou o curso de Direito na Universidade de Brasília. Foi presidente de Federação dos Estudantes Universitários de Brasília. Advogou em Goiânia, chegando a fazer sustentação oral no Supremo Tribunal Federal. Em 1968 fez pós-graduação na Sorbonne, na França.

Na biografia que publicou, o “Memorial da Resistência” relata que ele foi militante da ALN, tornando-se um dos principais nomes da organização após a morte do líder Joaquim Câmara Ferreira. “Entre julho de 1969 e janeiro de 1970, fez curso de guerrilha em Cuba. Retornou ao Brasil em março de 1971. Ainda nesse mês, foi julgado e condenado à revelia à pena de dois anos e seis meses de reclusão. Desapareceu aos 27 anos de idade, quando foi preso, junto com Heleny Ferreira Telles Guariba, no Rio de Janeiro, RJ, por agentes do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI)”.

Pedro Celestino da Silva Filho, pai de Paulo de Tarso, também advogado e deputado federal pelo Estado de Goiás, cassado pelo AI-5, envidou esforços durante anos para obter alguma informação sobre o filho. Por meio da seção de Brasília da Ordem dos Advogados do Brasil acionou o Ministério do Exército. Em dezembro de 1971, o Ministério informou que ele havia sido preso por agentes militares.

Diante da negativa de mais informações das autoridades, o tempo foi se encarregando de fazer algumas revelações, que se deram, sobretudo, por meio do testemunho de vítimas e antigos militares. Na matéria “Longe do ponto final”, publicada pela revista “IstoÉ” na edição de 8 de abril de 1987, o médico Amílcar Lobo declarou ter atendido Paulo de Tarso durante o tempo em que serviu no DOI-CODI/RJ.

O testemunho mais importante para o esclarecimento das circunstâncias do desaparecimento de Heleny foi dado pela ex-presa política Inês Etienne Romeu. No relatório que produziu, em 18 de setembro de 1971, sobre sua prisão no centro clandestino mantido pelo CIE em Petrópolis, a chamada “Casa da Morte”, Inês aponta uma série de mortes e desaparecimentos que presenciou durante os mais de 90 dias que permaneceu incomunicável naquele “aparelho”.

Dentre esses casos, relatou um, ocorrido em julho de 1971, envolvendo Walter Ribeiro Novaes, Paulo de Tarso e uma moça, que acredita ser Heleny. Em relação ao primeiro, um dos carcereiros do local, de nome “Márcio”, disse-lhe que havia sido executado. O segundo, Paulo de Tarso, foi torturado por 48 horas, colocado no pau de arara e obrigado a comer uma grande quantidade de sal, tendo suplicado água durante horas.

Em longa reportagem da revista “Veja”, o sargento Marival Chaves Dias do Canto, ex-agente do DOI-CODI/SP, relatou ter ouvido de agentes que estiveram na Casa da Morte que os corpos dos presos políticos executados naquele centro clandestino eram esquartejados, para dificultar a eventual identificação dos restos mortais. Por sua vez, o ex-médico Amílcar Lobo declarou, no livro “A hora do lobo, a hora do carneiro“, que os mortos na Casa de Petrópolis costumavam ser enterrados nos terrenos adjacentes à própria residência.

Paulo de Tarso permanece desaparecido.

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.