Poeta desde a adolescência, João Paulo Naves Fernandes lança no sábado, dia 14, no Espaço Scortecci, à rua Deputado Lacerda Franco, 96, Pinheiros, em São Paulo, o seu sexto livro de poemas, “Pomar de Letras”, pela Scortecci Editora. Ele cresceu na zona oeste da capital paulista, onde fez o curso secundário e despertou para a poesia. Fez Ciências Sociais na Universidade de São Paulo.

Em seu primeiro livro, “Chão do mundo” (1981), como operário metalúrgico, João Paulo pôs à mostra as feridas sociais da ditadura por meio dos seus versos, misturados a chaminés, sirenes de fábrica e apitos de trens. Com a repressão, veio “Banidos e profanos” (1982), em que os sentimentos sentiam medo, e os pensamentos, fome. “Dito pelo não dito” (1988) dá uma resposta a um tempo de reclusão. Descobrir a linguagem dos olhos, as palavras não ditas, compreender, sobreviver. Já “Gota serena” (2010) reflete a nova era de democracia, quando se fez necessário saber construir, mais que confrontar.

Em 2023 João Paulo lançou “Amor de espera”, em que canta a vida, o amor, num ambiente marcado pela pandemia de covid. Agora apresenta o “Pomar de letras”, unindo conhecimento, experiências e tempos, olhando para a frente a vida como construção. “É preciso romper o lacre do terceiro milênio, redescobrir as novas formas de prisão, estar atento, escrever. A resposta será sempre a afirmação do amor, caminho da vida verdadeira”, afirmou.

Luta por justiça

João Paulo nasceu em uma casa no fundo do Fórum de José Bonifácio, SP, no dia 9 de agosto de 1949, das mãos de uma parteira, logo tomando o café na xícara oferecida por sua madrinha, tia Maria. O pai, Sólon Fernandes, mineiro de Uberaba e juiz de Direito, suspendeu audiência para acompanhar o rebento. Sua mãe, Sebastiana de Souza Naves, professora primária, marcou sua vida com amor e sabedoria.

Aos cinco anos a família se mudou para São Paulo. Órfão de pai com 11 anos, encontrou num vizinho do bairro Perdizes, na capital paulista, o general Euryale de Jesus Zerbini, cassado em 1964, a formação intelectual que lhe serviu de base para a vida. Ele e sua esposa Terezinha Zerbini tornaram-se seus padrinhos do casamento com Margarida Maria Pereira Naves Fernandes, carioca, com quem teve dois filhos, Juliana e Rafael.

Com eles bebeu da filosofia e da poesia, e da luta por anistia. A convivência com os dominicanos, particularmente com frei Giorgio Callegari, preso durante a ditadura, despertou-lhe a sede de justiça, assumindo a luta pelas liberdades democráticas e de expressão, que mantém até hoje. “Hoje considero a tolerância e a vivência cristã minha referência principal, sem desconsiderar minha formação”, completou.

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