Casa cheia, como tem sido os eventos no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, com pessoas interessadas em conhecer a história goiana e seus personagens. Assim foi mais uma edição do programa “A História chama a Escola”, quando recebe grupos de estudantes de colégios de nível médio para mostrar o importante acervo que reúne e transmite momentos importantes dos registros oficiais sobre Goiás. Na manhã de sexta-feira, dia 12, em sua sede, na região central de Goiânia, foi a vez dos estudantes do Centro Educacional Sesc Cidadania, que ficaram entusiasmados com o volume de informações que lhes foram transmitidas. Visitaram a exposição “Trajetórias – 130 anos de Jalles Machado”, contando a história de um dos maiores políticos de Goiás; depois assistiram ao filme feito pelo cineasta Antônio Eustáquio da Silva (Taquinho) e participaram de outros eventos naquele espaço.
O homenageado, pioneiro e determinado, lutou nos espaços da oposição, foi Secretário de Estado de Obras Públicas e sobressaiu, sendo ainda um empreendedor, com obras marcantes, como a primeira usina que abasteceu de energia elétrica a cidade de Buriti Alegre, na década de 1930, cidade onde residia e foi Intendente.
O presidente do IHGG, Jales Guedes Coelho Mendonça, que conduziu os alunos pelos diversos espaços do Instituto, lembrou que o homenageado tinha nascido há 130 anos e conclamou a todos para comemorar a data. Estavam presentes, dentre outros, três netos de Jalles Machado de Siqueira: Jalles Fontoura, Sílvia Regina e Otávio Lage Filho, filhos do empresário e ex-governador Otávio Lage de Siqueira, e um personagem especial, que fez questão de conhecer o IHGG e encontrar os netos para falar de sua admiração por ele: Osmar Martins Barros, 92 anos, que foi Prefeito de Amorinópolis (1966-69), no Oeste goiano, conheceu Jalles Machado e o apoiou como candidato a Deputado Federal em sua região. Na ocasião, a Associação Goiana de Imprensa (AGI) foi representada pelo jornalista Jales Naves, que presidiu a entidade em dois mandatos consecutivos.
Quem foi
Mineiro de Alterosa, onde nasceu em 14 de abril de 1894, formado em Engenharia Civil, em 1919, pela Escola Politécnica de São Paulo, teve uma máquina de beneficiamento de arroz em Monte Carmelo, MG; em 1922 mudou-se para o sul de Goiás, estabelecendo-se em Buriti Alegre, onde desenvolveu toda vida profissional, projetando e construindo usinas hidrelétricas, estradas e pontes, montou indústrias de transformação, dividiu e demarcou terras, e plantou café. Em 1926 instalou uma usina hidrelétrica em Tupaciguara, MG, por iniciativa própria, em sociedade com investidores locais.
Em 1928 começou sua carreira política, ao ser eleito, pelo Partido Libertador, o primeiro Intendente de Buriti Alegre. Integrou-se à chamada ‘República de Morrinhos’, grupo formado pelas principais lideranças políticas da região sul de Goiás, como o deputado federal Alfredo Lopes de Moraes, que assessorou na campanha eleitoral para a sucessão presidencial estadual, decidida no pleito de 2 de março de 1929 e foi eleito. Nomeado por Lopes de Moraes como Secretário de Estado (que abrangia as áreas de Agricultura, Pecuária, Indústria, Comércio, Obras Públicas, Viação, Emigração, Imigração, Colonização, Terras Públicas, Luz, Esgoto, Pontes, Minas, Rios, Florestas etc.), função que lhe deu projeção estadual, ficou no cargo até agosto do ano seguinte, quando o Presidente renunciou e ele o acompanhou na decisão de sair.
Em seguida, foi para o Triângulo Mineiro, tornando-se secretário da Aliança Liberal e participando da Revolução de 1930, na condição de comandante do Batalhão Revolucionário de Tupaciguara. Nesse ano, foi diretor da companhia Estrada de Ferro Goiás, com sede em Araguari.
Fundador da Empresa de Força e Luz Minerva, de Buriti Alegre, que dirigiu de 1931 a 1933, construiu a pequena hidrelétrica que abasteceu a cidade e, depois, uma usina no rio Santa Maria, afluente do rio Paranaíba, que também forneceu energia para Buriti Alegre e para Santa Rita do Paranaíba, atual Itumbiara., em sociedade com o médico João de Alcântara. Ainda em 1933, a convite do líder político Diógenes de Castro Ribeiro, visitou a região de Jaraguá, para a construção de uma pequena hidrelétrica, entusiasmou-se com o Vale do São Patrício e decidiu, influenciado por Castrinho, adquirir a fazenda Itajá, o que o fez, tempos depois, mudar-se para a região.
Em 1933, na eleição à Constituinte, ficou como suplente para a Câmara Federal, sem assumir o mandato. Com o deputado federal Domingos Netto Velasco militou na Coligação Libertadora, agremiação de oposição ao interventor Pedro Ludovico. Em 1937 deixou o grupo para apoiar a candidatura do governador paulista Armando Sales de Oliveira, do Partido Constitucionalista, à Presidência da República nas eleições que seriam realizadas em janeiro de 1938. Esse pleito não ocorreu devido ao golpe de Estado dado por Getúlio Vargas, implantando o Estado Novo em 10 de novembro de 1937. Nesse período de exceção, que durou até 1945, ele abandonou a vida pública e voltou à atividade privada no Triângulo Mineiro e no interior de Goiás.
Um dos fundadores da União Democrática Nacional (UDN) em Goiás, em 1945, logo assumiu a presidência do partido e apoiou a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, à sucessão presidencial; foi derrotado pelo general Eurico Gaspar Dutra, do Partido Social Democrático (PSD), em dezembro daquele ano.
Paralelamente, foram eleitos os representantes à Assembleia Nacional Constituinte, encarregada de elaborar a nova Carta Magna do País. A UDN elegeu 11 senadores e 78 deputados, perfazendo o total de 89 parlamentares (26%). Em Goiás, das nove cadeiras, a UDN elegeu apenas um Deputado Federal, Jalles Machado, que se revelou atuante em plenário, com críticas mordazes e virulentas à política econômica intervencionista do Governo Vargas. Também ocupou a tribuna para desferir violentos discursos contra o ex-interventor de Goiás.
Após a promulgação da nova Constituição, em 18 de setembro de 1946, ele passou a exercer o mandato ordinário de Deputado Federal, tendo como preocupação central a modernização do País, defendendo a construção de estradas de rodagem. Em 1947 apresentou projeto para a ligação asfáltica entre Anápolis, GO, e Belém, PA, que obteve aprovação e tornou-se a “Lei Jalles Machado nº 326/48”. A professora Heliane Prudente Nunes, em sua dissertação de Mestrado em História pela Universidade Federal de Goiás, assegura que essa rodovia tomou as diretrizes adotadas pelas prescrições e recursos da Lei 324/48, para construção da Anápolis-Belém. “A implantação da estrada foi acelerada no final de 1950, com aplicação de maciços recursos pela Rodobrás, que a concluiu, já com o nome de Belém-Brasília”.
A rodovia, “mais importante que a própria Brasília”, nas palavras do próprio presidente da República, Juscelino Kubitscheck de Oliveira, foi inaugurada oficialmente em 3 de fevereiro de 1959.
A busca pelo progresso foi uma constante em seus discursos. Apresentou diversos projetos com esse objetivo, para desenvolver e modernizar o Brasil e, particularmente, Goiás. Ocupou a tribuna para defender a transferência da Capital Federal, por acreditar que o verdadeiro Brasil estava no interior.
Jalles Machado voltou à política em 1962, sendo eleito Deputado Federal pela Coligação Democrática, formada pela UDN, Partido Social Progressista (PSP) e Partido Democrata Cristão (PDC). Com a implantação do regime militar em 1964, que editou o Ato Institucional nº 2, acabando com os partidos políticos e fixando o bipartidarismo, optou pela Aliança Renovadora Nacional (Arena). Na época, colaborou com o governo do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967) na elaboração do Estatuto da Terra. Reeleito Deputado Federal no pleito de novembro de 1966, exerceu o mandato até janeiro de 1971, quando deixou definitivamente a Câmara dos Deputados e a política.
Ironia do destino, faleceu em acidente de carro na rodovia pela qual tanto lutou, a Belém-Brasília, no trecho próximo a Ceres, no dia 25 de julho de 1975, aos 81 anos. Ele dirigia o veículo.
Três goianos que receberam seu nome em homenagem a Jalles Machado: o jornalista Jales Naves, o neto dele Jalles Fontoura e o presidente do IHGG, Jales Mendonça