Casa Rosada de Goiânia, imponente e atraindo a atenção de todos (Foto de Nelson Santos)

Administrar uma entidade cultural, sem dotação orçamentária, com os 50 sócios titulares contribuindo com uma pequena taxa anual, no valor de meio salário-mínimo cada, que perfaz um valor total de R$ 35 mil ao ano, se todos pagarem, não é uma tarefa fácil. No caso do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, então, a situação fica mais difícil ainda, porque tem uma estrutura física ampla – uma casa e um sobrado, em dois lotes numa área central, muito bem localizada, em Goiânia –, mas sem condições de pagar os custos mensais normais, como pessoal, energia, telefone, material de limpeza, manutenção etc. Seus dirigentes não são remunerados, a maioria buscou uma parceria com o Setor Público para ceder pessoal para as tarefas básicas, e o Presidente da entidade, além de não ganhar um centavo para dirigi-la, muitas vezes arcava, do próprio bolso, com muitas despesas para mantê-la em funcionamento.

Essa situação, constrangedora, perdurou por quase 90 anos no IHGG, cuja sede fica na rua 82 nº 455, no setor Sul, em Goiânia, em frente ao enorme Palácio Pedro Ludovico Teixeira, antigamente chamado de Centro Administrativo, onde fica a maioria dos órgãos do Governo do Estado de Goiás.

Em maio de 2021, aos 47 anos de idade, o jovem Promotor de Justiça e doutor em História pela Universidade Federal de Goiás, Jales Guedes Coelho de Mendonça, a frente de uma diretoria formada por alguns dos principais intelectuais goianos, assumiu a Presidência do Instituto, com muitos planos e o desejo de mudar. Ele conhecia o quadro que recebeu e por isso chegou preparado para implantar um novo modelo de gestão, para permitir ao IHGG caminhar de forma autônoma, sem dependência do Setor Público, e desse sequência ao seu trabalho, pela preservação da história e dos documentos históricos e promoção de eventos culturais, como exposições, lançamento de livros e palestras. Na nova dinâmica, procurou envolver mais a iniciativa privada, como é comum nos Estados Unidos, onde as famílias norte-americanas e os cidadãos bem-sucedidos patrocinam as instituições culturais e seus projetos com recursos próprios.

Foi pensando e agindo dessa forma que saiu a campo em busca de novos aliados, que reconhecessem a importância da cultura e patrocinassem a entidade e seus planos. Quem primeiro o apoiou foi o empresário José Carlos Garrote de Souza, fundador da São Salvador Alimentos, que detém a marca Super Frango e custeou as despesas do Instituto em 2021. O passo seguinte foi maior: tendo como vice-presidente do IHGG o médico Hélio Moreira, que integrava a diretoria da cooperativa de crédito Sicoob UniCentro Br, ele convidou seus colegas para uma visita ao Instituto, quando conheceram os seus propósitos, visitaram todas as suas dependências e se ofereceram para colaborar, montando um ousado projeto, de restauração da antiga casa ali existente e de reforma do prédio administrativo, recuperando-o para o devido funcionamento.

História

O Instituto Histórico e Geográfico de Goiás foi uma das últimas instituições culturais criadas na antiga Capital goiana, no dia 7 de outubro de 1932, sendo solenemente instalado quase um ano depois, no dia 17 de setembro de 1933, ainda em Vila Boa. Sua primeira reunião, no entanto, aconteceu quase cinco anos depois, a 25 de junho de 1938, já em Goiânia. No mês seguinte, o então presidente Colemar Natal e Silva lançava a pedra fundamental de sua sede própria, que seria a primeira obra no nascente setor Sul, nos lotes 43 e 45 da rua 82, doados pelo interventor federal Pedro Ludovico Teixeira. Já nesse primeiro momento a presença do Estado participando da construção da sede. A inauguração deu-se no dia 5 de outubro de 1939 e, poucos dias depois, 21 de novembro, pelo Decreto-lei nº 2.593, foi declarado entidade de utilidade pública.

Ao longo desse período são muitas histórias, muitas conquistas, muitas dificuldades, e um trabalho importante pela cultura e pela memória de Goiás.

Nova gestão

            Ao assumir a presidência, Jales Mendonça (foto) dividiu seu tempo: pela manhã ficaria à disposição do Instituto, dando expediente, planejando, resolvendo as pendências, recebendo as visitas, presidindo solenidades e mantendo contatos com empresários. À tarde, como integrante do Ministério Público de Goiás, desde 1999, atua presentemente na 52ª Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude de Goiânia.

O apoio do empresário Garrote, que preside a Super Frango e a Associação pró-Desenvolvimento Industrial de Goiás (Adial), foi o primeiro passo dessa trajetória ousada e vitoriosa que empreendeu.

Seguiu-se a visita do então diretor de Relacionamento e Inovação do Sicoob UniCentro Br, dr. Diogo Mafia, que viu no IHGG uma oportunidade de mostrar a preocupação da Cooperativa de Crédito com a cultura, apoiar a instituição e firmar sua proximidade com o Instituto, colocando uma de suas principais agências naquele espaço. Elaborou um arrojado e oportuno projeto, que restaurou, inclusive, a cor rosa do antigo imóvel que existia, passando a ser chamado, a partir daí, como a Casa Rosada de Goiânia, criando uma iluminação especial e já a tornando referência turística da cidade, pela localização central, pela beleza que ostenta e por redimensionar o centro da capital. O investimento, de R$ 2,5 milhões, foi todo custeado pelo Sicoob UniCentro Br, que ainda decidiu, noutra demonstração de apoio ao Instituto, alugar uma das três partes em que o imóvel foi dividido – na do meio ficam as exposições temporárias que o IHGG promove, já tendo apresentado trabalhos de 50 intelectuais goianos, e na terceira, o Café Brasileira Leo Lynce, novo ponto de encontro de intelectuais goianos, que abriga ao lado as mostras artísticas, como pinturas, shows musicais etc.

O Sicoob UniCentro Br reformou o prédio de três pavimentos onde funciona o Instituto, possibilitando a melhor ocupação dos espaços. No térreo, o auditório Augusto da Paixão Fleury Curado, com 150 poltronas; e a Biblioteca Irmãos Oriente, já com mais de 50 mil documentos catalogados; no primeiro andar, as grandes exposições, com duração de um ano, quando homenageia pessoas que se destacaram pelo seu trabalho; e no segundo andar, as Salas da Presidência, da Secretaria e da Hemeroteca, onde estão os jornais doados para o Instituto, o que torna o seu acervo de jornais e revistas um dos maiores do Brasil.

As grandes exposições começaram por dom Tomás Balduíno, quando obteve o apoio na realização do evento da empresa BaladApp, de venda de ingressos pela internet para shows e espetáculos, do sobrinho do religioso, empresário João Carlos Balduino Ala, e do cantor Gustavo Lima, que contribuiu para a instalação do elevador no prédio, para permitir maior acessibilidade ao local, em especial de cadeirantes. A segunda, que ficará aberta até dezembro deste ano, resgata a exemplar trajetória empresarial e política de Jalles Machado de Siqueira, que foi pioneiro na construção de usinas hidrelétricas e deputado federal por quatro mandatos, autor de projetos de relevância para Goiás, como a construção da rodovia Belém-Brasília, e a luta pela transferência da Capital brasileira para terras goianas. A terceira, em 2025, vai homenagear o empresário e político Otávio Lage de Siqueira, que foi Prefeito de Goianésia, Governador eleito de Goiás (1966-1971) e pioneiro na agroindústria no estado, implantando cooperativas reunindo produtores rurais, cafeicultores, pecuaristas, plantadores de cana de açúcar e de crédito, dentre outras.

Outro grande projeto, denominado “A História chama a Escola”, oportuniza a alunos do ensino médio conhecer e debater, com escritores e historiadores, a história de Goiás numa nova perspectiva, de autores que estudam e trabalham a memória goiana, nas mais diversas atividades. Em 2023 mais de dois mil alunos de Colégios de Goiânia estiveram no IHGG.

O Instituto tem despertado a atenção de empresários e profissionais liberais, que estão visitando, aprovando as medidas adotadas e oferecendo apoio financeiro, como os advogados Demóstenes Torres e Felicíssimo Sena; os empresários Jalles Fontoura e Otávio Lage Filho, da Jalles Machado, de Goianésia; e a Unimed Goiânia. Esse respaldo tem possibilitado o funcionamento do Instituto, a realização de muitas iniciativas, como exposições, palestras e debates, a rediscussão da história goiana, com um projeto de grande dimensão, “Goiás +300”, reunindo 500 pesquisadores, escritores e professores universitários na produção de 18 livros que recontam a história de Goiás, anterior a 1722. Já foram lançados dois boxes de livros, cada um com três obras específicas. O trabalho é coordenado pelo presidente Jales Mendonça e pelo professor doutor Nilson Jayme, também editor-geral dos livros lançados.

Os números comprovam as mudanças já nesses três primeiros anos de gestão, sem considerar os investimentos feitos pela iniciativa privada, superando 3,5 milhões de reais: em maio de 2021, quando teve início o atual período administrativo, o caixa do Instituto tinha R$ 4.341,00; e ao encerrar o exercício fiscal de 2023, com as contas em dia e todos os pagamentos efetivados, contava com R$ 177.668,57. Com dois detalhes: não recebeu, nesses três anos, nenhum centavo de recursos públicos; e no final do mês de abril deste ano devolveu os quatro servidores públicos que estavam cedidos ao IHGG.

O trabalho com a iniciativa privada tem se ampliado de tal forma que levou o IHGG a propor uma parceria com a Federação do Comércio do Estado de Goiás, para adquirir o imóvel ao lado do Instituto, na rua 82, e nele montar um Centro Cultural, numa ação conjunta pela cultura e pela valorização da região central de Goiânia. A Fecomércio e a diretoria regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) já compraram a casa, que vão reformar e, a partir daí, trabalhar em conjunto com o IHGG em projetos culturais.

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