Jales Mendonça falando na abertura da sessão
Uma das entidades mais tradicionais de Goiás, o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás vive sua fase mais ousada, com uma gestão que revoluciona suas estratégias e sua forma de existir, numa exitosa aproximação com a sociedade, em especial as empresas, em busca de novas fontes de financiamento de suas ações e iniciativas. O IHGG conta com um pequeno orçamento anual, composto apenas pela contribuição financeira de seus 50 sócios titulares, o que perfaz em torno de 35 mil reais ao ano, o que limitava suas ações; e vinha tendo dificuldades em renovar o convênio com o Poder Público para ceder pessoal para trabalhar na instituição, pois não dispunha de recursos para arcar com a contratação de técnicos de que necessita para funções específicas.
Marcando esse período de ousadias, o presidente do Instituto, Jales Guedes Coelho Mendonça, sempre firme e determinado, contando com o apoio dos demais dirigentes e sempre com reuniões com o auditório todo tomado pela presença de intelectuais goianos, fez um bombástico anúncio na sessão de quinta-feira, dia 2: era a primeira entidade cultural goiana a devolver aos seus órgãos de origem os quatro funcionários públicos que estavam lotados no Instituto. Foi no lançamento do livro “Goiânia, 90 anos”, editado pelo IHGG, e na homenagem póstuma ao jornalista Batista Custódio dos Santos, que doou o rico acervo de seus dois jornais, “Cinco de Março”, semanário, e “Diário da Manhã”, e mais de 100 mil fotografias desse período para a hemeroteca da entidade – com a entrega desse material, que teve a interveniência do presidente da Associação Goiana de Imprensa, jornalista Valterli Leite Guedes, o IHGG passa a ser o centro de estudos com maior quantidade de jornais goianos do Brasil. Essa iniciativa, como ressaltou, enquadrou-se já no novo espírito de funcionamento do Instituto, de trabalhar mais com a iniciativa privada.
Ao anunciar a medida, Jales Mendonça reafirmou seu empenho em não mais depender do Estado para o funcionamento do IHGG, já contando com quatro pessoas contratadas para executar as tarefas em andamento, suprindo essa demanda. Citou que desde o início de sua gestão, há exatos três anos, passou a procurar parceiros na iniciativa privada para mudar a forma de ver e apoiar as iniciativas culturais em Goiás e tem encontrado empresários que compreenderam essa nova proposta, oferecendo o respaldo indispensável aos seus projetos.
Enumerou, nessa relação de contribuintes, a cooperativa de crédito Sicoob UniCentro Br, responsável pela recuperação do espaço físico, reconstituindo a primeira sede, mantendo a sua cor rosa original e a tornando hoje a principal atração turística da cidade, e ainda alugando uma área para funcionamento de uma de suas mais dinâmicas agências; a BaladApp, empresa de venda de ingressos pela internet, que colaborou na recuperação da sede própria do Instituto e na instalação do elevador, além de apoiar na realização da exposição em homenagem a dom Tomás Balduíno; a empresa Jalles Machado, que propiciou a mostra sobre o empresário e político, autor de projetos fundamentais para Goiás, como a construção da rodovia Belém-Brasília e a luta pela transferência da Capital Federal para Brasília; o escritório do advogado Demóstenes Torres; e a Unimed Goiânia.
Jales Mendonça, Artur da Paz, Marli de Almeida, Abílio Wolney Neto e Valterli Guedes
Homenagem
A sessão do IHGG, no auditório Augusto da Paixão Fleury Curado, que estava lotado, foi iniciada com a execução do Hino Nacional pela pianista Andréa Teixeira, seguindo-se a homenagem ao jornalista Batista Custódio e a seu filho, Júlio Nasser, pela importante contribuição ao acervo da hemeroteca da entidade, atualmente a maior do Centro-Oeste brasileiro. Ele foi representado pela viúva Marli de Almeida e Júlio Nasser, que não pôde comparecer, por seu irmão, o jornalista e engenheiro de software Artur da Paz, que discursou em nome da família e destacou o significado da lembrança, que mantém vivo o legado do jornalista.
“Meu pai era defensor da história e da memória, a ponto de ficar triste de não haver essa valorização”, afirmou Artur. “Ele gostaria muito de ver esse momento de crescimento do IHGG. Poucas coisas são mais importantes para a história do que a memória, que é alma de um povo e alma nunca morre”. Lembrou a premiação que o “Diário da Manhã” recebeu na década de 1980 da Academia Brasileira de Letras como “o terceiro melhor jornal do país”. Destacou ainda o fortalecimento do Instituto e a gestão atual. “Jales Guedes reformulou o IHGG, fez parceria com empresas privadas, como o Sicoob, que trouxe mais investimentos, reformulou a Casa Rosada; e o acervo entra neste momento de crescimento, transformando-o no melhor lugar para se consultar sobre a história de Goiás”, afirmou.
A doação foi combinada ainda em vida por Batista Custódio, que morreu em novembro de 2023, aos 88 anos. O processo de entrega do expressivo material foi feito pelo jornalista Valterli Guedes, seu amigo de longa data, que trabalhou em seus veículos e o apoiou em seu trabalho jornalístico. Houve também a doação do acervo fotográfico desses jornais, com mais de 100 mil fotografias, que estão sendo higienizadas para igualmente serem colocadas à disposição da sociedade.
O historiador Jales Mendonça informou que o Instituto digitaliza essa massa documental para colocá-la na hemeroteca digital, que pode ser acessada no site: hemeroteca.ihgg.org.br. “O ‘Cinco de Março‘ já se encontra disponível gratuitamente na página e o ‘Diário da Manhã’, referente às edições da década de 1980, será colocado, proximamente, à disposição de estudiosos e pesquisadores da história de Goiás dos últimos 50 anos”.
Goiânia, 90 anos
Fruto das análises enunciadas no Simpósio 90 anos de Goiânia no IHGG, o livro “Goiânia, 90 anos”, editado pelo IHGG, transforma-se, conforme seus autores, em repositório seguro sobre o tema, inclusive por ocasião do vindouro centenário goianiense, em 2033. “Goiânia merecerá ainda novas reflexões no seio da Coleção Goiás +300, além das duas únicas cidades da região Centro-Oeste a ostentarem o título de Patrimônio Cultural da Humanidade: Brasília e Cidade de Goiás”.
Organizado por Eliézer Cardoso de Oliveira, Jales Mendonça, Nasr Fayad Chaul e Nilson Jaime, que estavam presentes e discursaram, o livro contou com a participação de 17 autores de artigos e faz uma reflexão sobre a história de Goiânia, quando se comemoram os 90 anos de sua existência.
Goiânia representa “a imposição do espírito humano sobre a natureza agreste do cerrado, mas também é um exemplo do preço alto que pagamos por tamanha ousadia. Em busca da harmonia geométrica de ter uma cidade com praças circulares ou quadradas, ruas retas ou curvilíneas, árvores foram arrancadas; córregos, soterrados; morros, aplainados; e brejos, drenados”, argumentaram os autores na apresentação do livro.
O resultado é uma bela e imponente cidade. “O viajante que percorre a BR-153, sentido Brasília-São Paulo, ao se deparar com a visão de Goiânia, ficará encantado com uma cidade que se espalha horizontalmente na paisagem e se destaca verticalmente por meio de seus arranha-céus. Não há como não reconhecer a imponência de uma cidade que se tornou o embrião de uma zona metropolitana que abriga mais de dois milhões de almas”, explicaram.
Autores do livro lançado pelo IHGG