Luiz Augusto aprecia sua obra na Casa Rosada (Foto de Nelson Santos)

Crítico implacável, como ele próprio se autodenominou no blog que manteve, ‘Laps’, “às vezes ferino e irônico, mas sempre um gentleman”, como a poeta Elizabeth Caldeira Brito o descreveu. Assim é o escritor Luiz Augusto Paranhos Sampaio, 86 anos, o 12º intelectual que o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás selecionou para a exposição, nos próximos dois meses, de seu importante trabalho. A mostra ficará aberta à visitação pública na Sala Colemar Natal e Silva, da Casa Rosada de Goiânia, que engalana a sede do IHGG, na rua 82 nº 455 – setor Sul, e é o novo ponto de encontro da intelectualidade goiana.

“De presença elegante, solícito e amável, Luiz Augusto é um aristocrata”, afirmou Beth Caldeira, para mostrá-lo integralmente: “eminentemente literato, milita em várias vertentes: no magistério, no direito e na política. Em todas elas atua com hialidade”. “O querido amigo é o precursor de caminhos em terrenos de glórias. Neste momento, de singular importância para a historiografia do nosso IHGG, receba o nosso afeto de sempre e a minha reverência por tudo o que você é”, completou.

Os demais oradores concordaram com suas palavras e reafirmaram sua admiração pelo homenageado, como Jales Mendonça, Nilson Jaime – que elaborou o vídeo mostrando a sua obra – e Geraldo Coelho Vaz, que ainda destacou sua solidariedade com os colegas em momento de crise, quando perderam o emprego, ao convidá-los a lecionar no Colégio 5 de Julho, de sua propriedade.

Trajetória

Goiano de Catalão, Luiz Augusto Sampaio formou-se em Letras Neolatinas e Direito nos anos de 1959 e 1960. Exerceu o magistério em colégios e faculdades goianas. “Sob seu arguto olhar grandes líderes emergiram em nosso estado. E tantos outros receberam seu apoio incondicional”, destacou Beth Caldeira.

Sua atuação política, iniciada em 1960, quando se alistou ao Partido Democrata Cristão, “fez rastros de sucessos e realizações”. Em 1962 elegeu-se o vereador mais votado em Goiânia, com 1.114 votos. Em 1965 foi eleito presidente do Legislativo Municipal. Líder desde jovem, presidiu o Diretório Regional do PDC, que tinha uma bancada de quatro deputados.

Na gestão pública fez história. Foi assessor jurídico da Procuradoria Municipal, Secretário de Finanças da Prefeitura de Goiânia, Chefe da Procuradoria dos Negócios Administrativos do Município, Consultor Jurídico do Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e do Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, com o então ministro Íris Resende. Foi, ainda, Consultor da República, no Palácio do Planalto, e Procurador Geral da União.

“Excelente pesquisador, Luiz Augusto disseca minúcias históricas, para compor o seu testemunho da goianidade”, ressaltou Beth Caldeira. Premiou durante anos, semanalmente, os leitores do “Diário da Manhã” com seus artigos. Pioneiro nas crônicas em Goiás, “seus textos de caráter irreverentes, autênticos e documentais, instigam, divertem, comunicam e comovem o mais exigente esteta”, afirmou a poeta. “Operário da palavra, confere permanência ao instante fugaz. Pormenores de personagens e da história recente ou evocativa são escancarados”, completou.

“Leitor voraz, Sampaio coleciona livros adquiridos por outrem. Explico! Ele compra, nos sebos goianos e onde quer que estejam, livros autografados e descartados”, disse. Seu acervo contém preciosidades. “São relíquias que aguçam a imaginação. Narram a esperança da possível leitura do livro de quem originou o autógrafo. Porém, há exemplares que demonstram jamais terem sido manuseados. Alguns descartes são, notadamente, efetuados pelo receptor do autógrafo. Outros, provavelmente, desprezados pelos herdeiros ou guardiões da obra literária”.

Luiz Augusto publicou três dezenas de livros. Vários associados a exegese, uma de suas especialidades. Recebeu numerosas homenagens: Medalha do Pacificador, do Exército Brasileiro; Medalha Amigo da Marinha, do Clube Naval; Medalha do Mérito Tamandaré, da Marinha; Ordem do Mérito Aeronáutico; Colar do Mérito Judiciário do Trabalho, do Tribunal Superior do Trabalho, no grau de comendador; do Tribunal Superior Eleitoral; Comenda Anhanguera, a maior do Estado de Goiás e o Colar Pedro Ludovico, da Assembleia Legislativa, dentre outras.

Acadêmico

Em sua posse, na Academia Goiana de Letras, foi recepcionado pelo escritor Aidenor Aires, que enfatizou, em seu discurso “O Imponderável Espelho do Tempo: “…Para chegar a este dia, o novo acadêmico palmilhou estradas, abriu caminhos apenas sugeridos. Morejou, e morejou muito nesta eira reclusa, neste ritual de sozinho turbulentamente povoado. Por isso, ao chegar aqui, no alto do ingente e contínuo esforço, vem carregado. Traz nos pés de viageiro, o barro de suas origens; no peito, as emoções da infância; na alma, o alento das raízes primeiras, a evocação da casa paterna. Traz também nos largos braços sempre abertos para incluir a humanidade, e os companheiros, os feitos, os trabalhos, espigas e um campo onde não faltou o árduo amanho e a ternura…”.

Obra publicada: “Apostila da Geografia Geral”, de 1958; “Café Central”, crônicas, 1966; “Como se tornar Secretário de Estado e permanecer no cargo”, ensaio, 1978; “Matérias Estranhas e Casuísmo nos textos constitucionais brasileiros”, 1988; “Comentários à nova Constituição Brasileira / Preâmbulo e Artigos 1º ao 17” e “Comentários à nova Constituição Brasileira / Artigos 18 a 75”, dois volumes, Ed. Atlas, 1989; “Crônicas maliciosas”, 1999; “Apontamentos sobre o Código de Conduta da Alta Administração Pública Federal”, 2001; “Processo Administrativo”, AB Editora, 2002; “Crônicas Quase Didáticas”, edições consorciadas da UBE-GO, 2003; “Opiniões na Imprensa”, 2003; “Duas épocas e dois vultos ilustres”, discurso de posse na Cadeira nº 15, do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, outubro de 2004; “Estatuto do Idoso – Comentado”, AB Editora, 2004; “Emoções do Retorno”, Cadeira nº 19, 24.06.2005; “Gabriela Mistral – O canto nostálgico dos Andes”, 2005; “Para ler na sala de espera”, crônicas, 2005; “Profissão de fé. Confissões de amizade”, discurso de posse na Cadeira nº 16 da Academia Goiana de Letras, 17.11.2005; “Crônicas escolhidas a dedo”; “Cheiro de rosa”, crônicas, Ed. Kelps / Ed. PUC Goiás; “Pimenta, Rosas e Espinhos”, Ed. Renascer / Ed. UCG, 2007; “Legislação sobre Goiás no Reino e Império Dom João VI, dom Pedro II, Regência e Toponímia”, v. 1, e “Legislação sobre Goiás no Reino e Império Dom Pedro II e Glossário”, v. 2, dois volumes, 2011; “Primeira Lista de Assinantes de Telefones de Goiânia 1943”, organização, notas e biografias, 2016; “Crônicas escolhidas a dedo”; “Cheiro de rosa”, crônicas, ed. Kelps; “O escravismo nas páginas da Matutina Meiapontense”; “Fragmentos biográficos”, ed. Kelps / Ed. PUC Goiás; “100 Crônicas Selecionadas pelo autor”; “Nem sempre os célebres morrem em silêncio”, organização, pesquisa e compilação, 2021, AD Editorial; “Dicionário do Escritor Goianiense”, organização, pesquisa e compilação,2022, Goiânia, ed. Kelps; e “Meu livro de sinopses”, organização, pesquisa e compilação, 2023, Goiânia, ed. Visão.

Tem dois livros prontos e ainda não lançados: “Primeiras-Damas – De Mariana da Fonseca a Rosângela Lula da Silva, edição organizada, comentada e com curiosidades”, ed. Visão, Goiânia, 2024, que imprimiu 50 exemplares para distribuição na abertura da exposição; e “Ricardo Paranhos – Príncipe dos Poetas Catalanos”.

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