Determinação e persistência na defesa de suas ideias e objetivos. Essa foi a lição que o professor doutor Sandro Dutra e Silva (foto, em frente à Universidade Harvard) passou aos presentes na homenagem que o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás lhe prestou na manhã de sexta-feira, dia 16, no restaurante do Crystal Plaza Hotel. O IHGG reuniu amigos e membros da entidade para se despedirem dele, que viaja no dia 4 de setembro para Boston, Estados Unidos, onde será professor convidado da Universidade Harvard por seis meses.
Ao agradecer a gentileza daquele encontro, ele lembrou um episódio que aconteceu ao participar, em 2005, do processo seletivo para ingressar no Curso de Doutorado em História da Universidade de Brasília, quando praticamente defendia um projeto. Tinha como foco em seu estudo a colonização agrária no Mato Grosso Goiano, nas matas do Vale do São Patrício, onde foi implantada, nos anos 1940, a primeira Colônia Agrícola Nacional de Goiás. Interessava-lhe conhecer o processo histórico da colonização, a expansão da fronteira e a Marcha para o Oeste.
Os professores da banca começaram a arguição e um deles não estava de acordo com o trabalho, dizendo-lhe que se quisesse ingressar na História da UnB teria que mudar o projeto de pesquisa. Afirmou que Goiás era um Estado insignificante, sem história e ele queria tratar de uma área mais periférica ainda, estudo muito regional, sem nenhuma ênfase nacional. Ninguém iria ler seu trabalho e não implicaria nenhum avanço para a história do Brasil.
Jovem, com pouco mais de 30 anos e ainda pouco experiente no lidar com questões dessa natureza, Sandro enfrentou a discussão que se iniciara, argumentando que não era uma história regional; envolvia uma grande política nacional de colonização, inclusive a fixação de colonos sem terra no interior do Brasil, com a criação de oito Colônias Agrícolas, das quais a primeira experiência estava em Goiás, e a Marcha para o Oeste. E que integrava uma política nacional de expansão da fronteira agrícola e demográfica. Disse mais que havia nascido em Minas Gerais e tinha sido criado na região que iria apresentar e defender em seus estudos; e que se a UnB não se interessasse, procuraria outra universidade que tivesse mais sensibilidade para o tema, que considerava da maior importância para Goiás e para o Brasil.
Felizmente, a banca era maior do que o professor que fez uma observação inoportuna e de forma preconceituosa com relação a Goiás, fugindo do propósito de toda universidade de estudar o meio em que se localiza, discutir e produzir novos conhecimentos, capazes de alterar essa realidade e melhorar a qualidade de vida de seus integrantes, e o aluno se mostrou correto.
Aceito nessa seleção, realizou seus estudos e teve aprovada a sua tese, em 2008. Posteriormente, em função desse trabalho que realiza pelo cerrado e pelo meio ambiente, foi professor convidado da Universidade da Califórnia, também nos EUA, também por seis meses, e agora, novamente e com idêntico objetivo, ficará igual período na Universidade Harvard, uma das maiores do mundo.
Ao contrário do que afirmou o professor a tese foi lida e despertou interesse dos norte-americanos.
Por isso, a defesa de que todos sejam determinados e persistentes em seus objetivos.
Jales Naves, jornalista e escritor, presidiu a Associação Goiana de Imprensa (AGI) em dois mandatos consecutivos (1985-1991) e integra a Academia de Letras e Artes de Caldas Novas (Cadeira nº 30), o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (Cadeira nº 34) e o Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado.