Altair com os filhos com Isabel Ribeiro: Luiz Paulo, José Clóvis e Flávio (Foto de Abilon Naves)

 

Ator e produtor de teatro, Altair Vieira de Faria Naves Pinto, que adotou o nome artístico de Altair Lima, produziu dezenas de peças teatrais, sempre com grande repercussão. Alcançou notoriedade e reconhecimento internacional ao montar, no Brasil, o musical ‘Hair’, escrito por James Rado e Gerome Ragni (texto e letra das músicas) e Galt MacDermont (música). Estreou off-Broadway em 17 de outubro de 1967 e, depois de 45 apresentações, foi para o Teatro Biltmore, na Broadway, em 29 de abril de 1968, onde se exibiu por mais 1.873 vezes.

Menos de um ano após a assinatura do Ato Institucional nº 5, que instaurou a fase mais dura do regime militar, com cassação de direitos políticos, prisão e torturas de adversários e censura, estreava em São Paulo a montagem brasileira do musical “Hair”, no palco do Teatro Aquarius e mais tarde no Teatro Zaccaro, no bairro do Bixiga. A iniciativa, ousada para a época, deveu-se a Altair Lima e a Ademar Guerra, responsável por diversas realizações pioneiras do teatro brasileiro e que vinha de uma temporada exitosa com a polêmica peça “Marat/Sade”, de Peter Brook.

Nascido em Barretos, SP, em 10 de julho de 1936, faleceu aos 66 anos, sendo 53 de profissão, de ataque cardíaco fulminante, em seu sítio em Angatuba, SP, em 24 de dezembro de 2002. A vocação veio do pai, José de Faria Pinto Júnior, artista circense, conhecido como Palhaço Aleluia, e da mãe, Alzira Naves Vieira Pinto. Mesmo com os percalços que acompanham as celebridades, era muito próximo da família. Carinhoso com sua mãe, nutria carinho pelas suas tias maternas, em especial Irinéia Naves de Campos e Ormezinda Naves Vieira, como registrou o advogado Abilon Naves em seu blog sobre a família Naves.

Foi casado duas vezes – a primeira com a atriz Maria Célia Camargo, com quem teve dois filhos, Ana Célia do Carmo Pinto e João Paulo do Carmo Pinto; e a segunda com a também atriz Isabel Ribeiro (Frederica Isabel Iatti Ribeiro), e eles tiveram três filhos: Luiz Paulo Ribeiro Pinto, José Clovis Ribeiro Pinto e Flávio Ribeiro.

Carreira artística

Altair Lima iniciou sua carreira na TV Record, em 1960. Na emissora fez os teleteatros “Imitação da Vida” e “A Máscara e o Rosto, entre outros. Depois passou para o Teatro Brasileiro de Comédia, onde fez “Yerma, e em seguida foi para a Companhia Nidia Licia.

Em 1962 ingressou na TV Excelsior para participar do “Teleteatro Brastemp. Dois anos depois, como ator contratado, transferiu-se para a TV Tupi, de São Paulo, onde participou do “TV de Vanguarda“, e em  teleteatros. como “Panorama Visto da Ponte”, “A Respeitosa” e “O Homem que Vendeu a Alma”.

Em 1965 voltou para a TV Excelsior, onde atuou nas novelas “A Deusa Vencida”; “A Grande Viagem”; “Ninguém Crê em Mim”; “O Morro dos Ventos Uivantes” e “O Grande Segredo, além da minissérie “O Tempo e o Vento, baseada na obra de Érico Veríssimo.

No final dos anos 1960 dedicou-se mais ao teatro e teve sua fase áurea como ator, diretor e produtor teatral, quando fez o musical “Hair, produção ousada e inesquecível. Depois, no Teatro Aquárius, montou “Jesus Cristo Superstar”, “Oh! Calcutá”, e “Godspell”. Foram momentos marcantes para o teatro nacional.

Altair com atores do musical ‘Hair’

Hair

Altair Lima e Ademar Guerra tiveram que vencer muitas dificuldades para a montagem de “Hair”. Primeiro, a descrença de empresários teatrais de que era possível montar um musical desse porte no Brasil. Depois de superada esta resistência, veio outro problema: a censura. A montagem original era repleta de cenas em que os atores apareciam nus, o que desagradou a censura. Seguiu-se uma penosa negociação e, ao final, os censores concordaram em que a nudez dos atores seria mostrada apenas uma única vez na peça, em uma cena com apenas um minuto de duração e na qual os atores deveriam permanecer absolutamente imóveis. Apesar das restrições, eles deram um tratamento requintado à cena, que caiu no gosto do público e da crítica e é lembrada até hoje como um dos grandes momentos do teatro brasileiro.

Hair” marcou a estréia de vários jovens atores e atrizes, que depois se tornaram famosos por suas atuações no teatro, cinema e televisão. O elenco inicial era composto por Armando Bogus, Sônia Braga, Maria Helena, Altair Lima, Benê Silva, José Franc, Neusa Maria, Marilene Silva, Laerte Morrone, Aracy Balabanian, Gilda Vandenbrande, Bibi Vogel, Acácio Gonçalves e Pingo.

Sônia Braga, então com 18 anos, foi a grande estrela da peça, mas quase ficou de fora do elenco, pois não contava com a simpatia do diretor Ademar Guerra e só foi aceita por conta da insistência de Altair Lima. Entre os que se encantaram com Sônia estava Caetano Veloso, que compôs Tigresa em sua homenagem. Ela era a tigresa de unhas negras e íris cor de mel, que trabalhou no “Hair”.

Ao longo da carreira da peça, que se estendeu até 1972, entraram as atrizes Ariclê Perez e Edyr Duqui (que depois faria parte do grupo musical “As Frenéticas”) e os atores Antônio Fagundes, Nuno Leal Maia, Ney Latorraca, Dênis Carvalho, Buza Ferraz e Wolf Maia.

A direção musical da peça foi de Cláudio Petraglia, a coreografia, de Márika Gidali e a tradução das músicas para o português de Renata Pallotini. Altair foi vencedor do Prêmio Roquete Pinto pela interpretação e produção do musical “Hair”, na sua primeira versão, em 1969.

TV e cinema

Altair Lima retornou à televisão pela Record e esteve nas primeiras novelas da emissora, “A Última Testemunha” e “Algemas de Ouro e ainda participou de “O Leopardo“. Na TV Tupi fez “Hospital” e em 1975 teve seu grande momento na TV vivendo o personagem César Jordão no sucesso de Ivani Ribeiro, “A Viagem”. Nessa emissora, em 1979, fez “Gaivotas.

O ator foi para a TV Bandeirantes em 1980 e lá teve dois bons trabalhos: foi o Lineu de “A Deusa Vencida e o espanhol Antonio Hernandez de “Os Imigrantes“, de Benedito Ruy Barbosa. Nessa emissora atuou na minissérie “Chapadão do Bugre” e depois, na TV Manchete, marcou presença nas novelas “Xica da Silva” e “Mandacaru“. Seu último trabalho na TV foi na novela “Louca Paixão“, em 1999, na TV Record.

No cinema fez cinco filmes: “Um Intruso no Paraíso em 1973; “Fruto do Amor” em 1981; “O Segredo da Múmia” em 1982; “O Bicho de Sete Cabeças em 2001; e “Narradores de Javé” em 2003.

O último trabalho do ator foi a peça “Hamlet – Mensageiro da Agonia”, em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso.

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