Mesa Diretora: Bruno Rocha, Geraldo Coelho Vaz, Aidenor Aires, Valterli Guedes, presidente da AGI; Leda Selma, diretora secretária, e Ademir Luiz. Foto de Nelson Santos.

Referência do jornalismo e da literatura goianos, o jornalista Hélio Rocha, que faleceu no último dia 5 de março, em Goiânia, aos 83 anos de idade e mais de 60 como profissional da imprensa, foi lembrado nesta quinta-feira, dia 4, pela Academia Goiana de Letras, que realizou a Sessão Magna da Saudade, em sua sede, a Casa Colemar Natal e Silva, na presença de acadêmicos, familiares e amigos. Ocupante da Cadeira nº 7 da AGL desde 2001, era “possuidor de uma escrita fácil”, como destacou o escritor Geraldo Coelho Vaz, que falou em nome da entidade, para ressaltar, em suas obras, “o louvor da clareza, a elegância de estilo, a limpidez nas palavras”. “Era uma prosa fluente, com riqueza vocabular”, disse.

Ao conduzir a sessão, o presidente da AGL, Aidenor Aires Pereira, falou da importância “da imortalidade acadêmica, que honra aqueles que viveram uma vida perfeita e produziram obras que sobrevivem a eles”. “Esta imortalidade vem do reconhecimento, da boa fama, do bom nome. Isto deve ser cultuado e honrado”, afirmou.

Os filhos do homenageado, Bruno Rocha e Ana Cecília Lousa Rocha, e o ex-presidente da AGL, Geraldo Coelho Vaz, transferiram a foto de Hélio Rocha para a Galeria da Saudade, naquele auditório.

Bruno Rocha, Coelho Vaz e Ana Cecília. Foto de Nelson Santos

Coleção literária

Ao citar sua vasta produção literária, “que enriquece a nossa tão pobre história goiana”, Coelho Vaz explicou que era uma significativa coleção literária, “preciosas obras memorialísticas, registrando fatos e verdades históricas de importantes acontecimentos políticos e sociais de Goiás e do Brasil”. Era seu mais antigo amigo em Goiânia, pois se conheceram em 1950, quando, aos 10 anos, pleiteavam seguir a carreira eclesiástica, sendo colegas no Juniorato do Seminário São José, dirigido pelos padres redentoristas, no antigo bairro de Campinas – e disse das saudades do velho casarão que não mais existe, conservando até os dias atuais a pequena e secular Igreja na vila São José.

No velho e tradicional Seminário São José, como lembrou, foi o primeiro passo “para abraçarmos o sonho e o amor pela literatura, pois nas refeições do almoço, sempre às 11h, no refeitório, era designado um seminarista para ler uma ou duas páginas de um livro indicado pelo reitor, padre Pelágio Sauter”. Os dois iniciaram a jornada literária “com iluminadas pretensões de alcançar o sonho de publicar um romance”. Dentre os 15 livros publicados de Hélio Rocha o destaque para “Os inquilinos da Casa Verde”, de 1998, sobre os Governadores que ocuparam o Palácio das Esmeraldas, já com três edições.

Nascido em Corumbá de Goiás, em 14 de agosto de 1940, participou do Seminário, que abandonou com a transferência residencial de sua família para Goiânia; estudou no Colégio Ateneu Dom Bosco, e em 1959 iniciou sua carreira jornalística, como repórter do jornal “Diário do Oeste”. Integrou a primeira turma, em 1968, do Curso Bloch de Comunicação, no Rio de Janeiro, onde trabalhou nas revistas “Manchete” e “Fatos e Fotos”, ambas da Editora Bloch e de circulação nacional. Ao retornar a Goiânia foi contratado pelo jornal “O Popular”, no qual foi chefe de Reportagem, editor-chefe, editorialista e se destacou como articulista, nesse veículo permanecendo por 40 anos, tendo assinado a coluna ‘Giro’ e a página ‘Memorandum’. Foi correspondente do jornal “O Globo”, da revista “Veja” e da agência de notícias Associated Press, dos Estados Unidos, e trabalhou na Sucursal de Goiânia do “Correio Braziliense”.

Publicou também “JK para a Juventude”, em 2002; “Sete décadas de Goiânia”, 2003; “Memória da energia em Goiás – 50 anos da Celg”, 2005; “40 anos de história da Saneago” e “Anápolis – E assim se passaram 100 anos”, ambos de 2007; “Farmacêutico, profissional a serviço da vida”, produzido por encomenda do Conselho Federal de Farmácia, e “Estações de minha vida, biografia de Iracema Vasconcelos”, ambos de 2008; “Folhetim Político, historietas do folclore político goiano”, 2009; “Rádio Brasil Central – 60 anos no ar”, 2010; “Coletânea de artigos”, 2011; “Tu és Pedro – biografia de Pedro Ludovico Teixeira”, de 2016; “Mil Máximas de Sabedoria”, organizado para o Instituto Tancredo Neves, de Brasília, de 2019; “Goiás no destino de JK” e “Verde que te quero verde – História do Goiás Esporte Clube”, ambos de 2021. “História da OAB-Catalão”, livro que se encontra no processo de revisão, será lançado ainda neste ano.

Foi casado com Joana Maria Félix Lousa e Rocha, ‘Jane” na intimidade, e eles tiveram três filhos: Bruno, Marcelo e Ana Cecília.

 

Passar conhecimento

Representando a família, o filho Bruno Rocha, também jornalista, afirmou que falar de Hélio Rocha “é falar de cultura, de história, de viagens, de jornalismo e de política”. “Posso dizer que foi um pai peculiar, atencioso, curioso, mas sobretudo um pai e avô que queria passar seu enorme conhecimento aos filhos e netas”, disse. “E as maneiras de passar um pouco desse conhecimento eram as mais diversas: numa boa conversa, na indicação de um bom livro, mas, principalmente, na realização de viagens. Era quando ele se sentia à vontade para nos informar, ‘in loco’, sobre a História e fatos curiosos de nossa terra, Goiás, do Brasil e do mundo”.

Ao tomar posse na AGL, em seu discurso, Hélio lembrou de sua feliz infância nos quintais de Corumbá de Goiás, sua cidade natal e terra de diversos acadêmicos, “inclusive de seu pai, Benedito Odilon Rocha (meu avô). Na fala daquele dia, ele buscou lá no descobrimento do grande Brasil do interior, ao citar o livro “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, para relatar a chegada dos bandeirantes aos sopés da Serra dos Pireneus. Ele sempre citava, com orgulho e maestria, uma curiosidade sobre a serra e os dois rios que ali brotam: o Corumbá e o das Almas, que formam duas das principais bacias hidrográficas do Brasil.

– “Os primeiros filetes das nascentes do rio das Almas brotam na vertente sul dos Pireneus, enquanto os do rio Corumbá porejam do lado norte. Depois dos primeiros impulsos contornando a serra, esses irmãos telúricos optam por rumos opostos: o das Almas corre para o estuário amazônico; o Corumbá vai ser tributário do rio Paranaíba, viajando para o destino final da Bacia do Prata”.

Hélio Rocha sempre acrescentava mais informações sobre o que estava conversando. Outro exemplo: numa viagem a Lisboa, ele brincou com o nome da avenida Liberdade dizendo que era o único lugar onde se tinha aquele direito na época da ditadura de Antônio de Oliveira Salazar. “Mas liberdade apenas na denominação da via”, esclareceu, para em seguida discorrer sobre o triste período ditatorial em Portugal, que durou 48 anos no século passado.

Aidenor Aires, Jales Naves, Eduardo Rocha, Roberta e Bruno Rocha e Maria Abadia. Foto de Nelson Santos

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