Assunto polêmico, mas ainda sem uma ampla discussão no Ocidente, principalmente no meio acadêmico, a reencarnação, um dos princípios da doutrina espírita, finalmente ganha um debate aberto: é o tema central do livro “A volta – A incrível e real história da reencarnação de James Huston Jr.”, de Bruce e Andrea Leininger, com a participação do romancista Ken Gross.
O espiritismo tem por fundamento a relação do mundo material com os seres do mundo espiritual, e que a alma é um ser moral, distinto e independente da matéria, que conserva sua individualidade após a morte. O “Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, resume, como um dos principais pontos dessa doutrina, que “entre as diferentes espécies de seres corporais, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que atingiram um certo grau de desenvolvimento, o que lhe dá a superioridade moral e intelectual sobre os outros”. Ainda, que “a alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório”.
A alma que não alcançar a perfeição durante a vida corporal, de acordo com Allan Kardec, tem que se submeter à prova de uma nova existência, no objetivo da expiação, de melhoramento progressivo da humanidade.
“A volta” é o resultado de quatro anos de pesquisa intensa e séria, de muitos quilômetros viajados em busca de documentos e depoimentos, mais de um ano de redação e registra a trajetória da família Leininger. Eles levavam uma vida normal até o dia em que o filho James, de apenas dois anos, começou a ter pesadelos. Quase todas as noites seus pais, Bruce e Andrea, acordavam com os berros do filho e o encontravam debatendo-se na cama.
James era um menino alegre e brincalhão que ainda estava aprendendo a se comunicar. Os pais sentiam-se transtornados, pois não compreendiam os motivos que o levavam a experimentar sonhos violentos, vivenciá-los com tanta intensidade e expressá-los com uma clareza atípica de alguém com sua idade. Determinado a descobrir o que estava acontecendo com o filho, o casal passou a observar melhor seu comportamento e a procurar entender o que ele gritava durante os pesadelos. Eram frases como “O avião está em chamas! O rapaz não consegue sair!”. Os Leininger não podiam imaginar o que estava para ser revelado.
“A volta” não discute a reencarnação, apenas apresenta essa história, considerada “o melhor caso americano da lembrança de uma vida passada em uma criança entre os milhares que encontrei”, como relata, no prefácio, a escritora Carol Bowman, autora dos livros “Crianças e suas vidas passadas” e “Return from Heaven”. Uma das maiores especialistas nesse tema, ela ajudou o casal a desvendar os pesadelos do filho e a buscar as respostas para as indagações que foram surgindo nesse período. O pai da criança, por exemplo, desde o início era um cético quanto a essa questão: católico, não admitia a reencarnação, e não poupou tempo, numa dedicação quase que integral na procura por respostas às dúvidas que tinha.
O casal buscou a ajuda do romancista Ken Gross para organizar as informações que tinha recolhido e criar um roteiro para contar a história, que oportuniza uma reflexão sobre o tema, com as suas diversas nuances, permitindo ao leitor tirar suas próprias conclusões.
Carol ressalta que a história “é extraordinária porque o pequeno James se lembra desde nomes e lugares de sua vida passada até pessoas e eventos verdadeiros – fatos que podem ser facilmente confirmados. Ele, inclusive, esteve com pessoas que o reconheceram em sua vida regressa, quando foi piloto na Segunda Guerra Mundial”. Conforme destacou, “é a história que finalmente abrirá a mente dos ocidentais céticos para a realidade das lembranças de vidas passadas das crianças. Este livro demonstra como essas lembranças podem trazer profundos benefícios emocionais e espirituais, tanto para a criança quanto para sua família”.
Pesquisadora, ela explica que a história de James não é incomum. “Muitas crianças no mundo inteiro têm lembranças de vidas passadas. É um fenômeno natural. Sei disso porque comecei a coletar e pesquisar esses casos há mais de 20 anos, depois que meus dois filhos tiveram suas próprias vívidas lembranças”. Ela chegou à conclusão de que isso deveria ter acontecido com outras famílias; entretanto, quando pesquisou livros para compreender o que estava acontecendo com os seus filhos não conseguiu encontrar nenhum que abordasse os efeitos curativos dessas lembranças das crianças, somente livros a respeito de adultos, que eram ajudados por meio da terapia de regressão. Foi quando decidiu preencher a lacuna e escrever um livro a respeito.
“A volta” são 319 páginas de uma leitura contagiante, que nos faz ir rapidamente até o fim, com surpresas muito interessantes, as descobertas dos pais, o envolvimento das pessoas lembradas, e a oportunidade de conhecer um caso real. A segunda edição brasileira, da BestSeller, é de 2009 e James deve ter hoje 11 anos.
Artigo publicado no jornal “Diário da Manhã”, de Goiânia, GO, edição de 30.07.2010, Pág. 7 / Cidades