Ao me encontrar, recentemente, com o poeta Gilberto Mendonça Teles, que reside, há mais de 50 anos, no Rio de Janeiro, ele me autografou o exemplar do livro “Aprendizagem de um romântico inveterado” com duas lembranças: que o escreveu em Campinas, nossa origem comum, pois ambos crescemos nesse bairro, que era como uma cidade do interior integrando a nova capital, Goiânia, onde todos se conheciam; e que, ao entregá-lo a um profissional da imprensa, que o promovesse, por ainda não tê-lo divulgado bem. A publicação, de 2011, é da Editora Kelps, como parte da quarta edição da Coleção Goiânia em Prosa e Verso, da Prefeitura de Goiânia.

         Aceitei a incumbência e tudo ficou mais simples ao começar a ler o seu belo livro, em especial as notas que escreveu para apresentá-lo, quando fui descobrindo mais sobre o autor e sua obra, que teve início ainda criança. No dia 30 deste mês ele completa 93 anos.

Nas notas ele roteiriza a sua arte de criar um livro, citando um processo interessante, como em “Hora aberta”, no qual reuniu seus poemas em 2003, organizando-os do presente para o passado, numa cronologia inversa. Assim fez também com os poemas inéditos que inseriu em “Aprendizagem de um romântico inveterado”, que vão de 1965 a 1942, nos seus 11 anos de idade, quando começou a guardar os poemas que rabiscava com a intenção de “estar fazendo Poesia”, como registrou.

         Alguns poemas mais recentes ficaram inacabados – anotou – e não lhe pareceu bem concluí-los agora, sob efeito de uma visão ideológica amadurecida: “vão como ficaram conservados por minha mãe, Celma Mendonça Teles, em Goiânia”. Foram datilografados por Maria do Rosário e mais tarde digitados no Rio de Janeiro.

         A sobrevivência desses poemas (inéditos) se deve ao processo de decantação de que se tem valido no momento de organizar um novo livro. Do acervo de poemas escritos vai escolhendo os que lhe agradam mais até formar um número razoável para um livro, em torno de 100 a 120 páginas. O que sobra é colocado na gaveta ou fica numa pasta especial onde ajunta os poemas escritos. No momento de organizar outro livro surge novamente o processo de decantação e muitos dos que foram inicialmente rejeitados acabam sendo escolhidos. Fez isto em 1955, quando preparou os originais do primeiro livro (“Alvorada”) e assim por diante em todos os livros de poemas que têm publicado. “É certo que o processo funcionou mais para os primeiros livros que, quase sistematicamente, foi deixando para trás os poemas mais antigos”.

         Ao organizar os poemas para o “Aprendizagem de um romântico inveterado” percebeu nitidamente que, à medida que vai do presente para o passado, também fica mais perto da linguagem e das técnicas poéticas de simbolistas, parnasianos, românticos e neoclássicos. Olavo Bilac é o que mais o influenciou no período dos seus 19 a 20 anos. Até os 18 anos foram os românticos, sendo fácil encontrar marcas de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves. Dos neoclássicos percebe-se a leitura de Gonzaga. “Até marcas camonianas aparecem nuns poucos poemas. Lembro, de passagem, que meu primeiro pseudônimo foi ‘Camões Goiano’, como se pode ver num poema dos 15 anos”, afirmou.

         “É com esses poetas que aprendi a metrificar e a gostar de temas amorosos: o amor, mais platônico do que real; das “musas” mais mencionadas nos poemas das quais jamais ganhei um beijo, mas digo que beijei”. Para a primeira parte de “Aprendizagem…” escolheu um título bastante amplo, capaz de abarcar todas as formas do verbo “amar”, como é o caso de seus tempos primitivos no latim: I – Amo, amas, amavi, amatum, amare. “A grande parte – a maioria – desses poemas inéditos celebra o Amor e, por isso mesmo, a Mulher”, completou.

         Já a segunda parte do livro confirma a veia humorística, o sentido de humor presente em seus poemas na atualidade. Críticos como Paulo Rónai, Péricles Eugênio da Silva Ramos e José Fernandes chamavam a atenção para o seu gosto pelo jogo de palavras e pelo humor. Daí porque escolheu um título como II – Terapia das musas, no qual, além do termo “musa”, foi atrás do termo grego “terapia”, ou seja: “ajuda para curar uma doença, como por exemplo a da poesia…”. Uma terapia ocupacional. Mas atente-se para o fato de que, quase escondidas, entre terapias e musas há umas “piadas”, “expressão de zombaria comigo mesmo, como se meus poemas não passassem de piadas das musas…”. No Anexo, no jornalzinho “Periscópio”, publicou versos humorísticos.

         “Vendo hoje todo esse material que ficou inédito, penso que ele poderá servir para avaliar o quanto me dedico à Poesia, como poeta e como crítico”, afirmou. “Fico realmente abismado procurando imaginar como arranjei tempo para escrever tanto, eu que a partir dos 13 anos trabalhei e estudei, a partir dos 20, dei aula e fui funcionário público federal.  Um amigo meu, que também escreve, me diz que o meu segredo é o de dormir uma hora depois da hora normal de deitar; e levantar uma hora antes da hora normal de levantar. Acrescentei: E não ter preguiça”.

         Lembrou ainda que a professora Jurema Coutinho, de Itaperuna, RJ, já defendeu no Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, MG, uma dissertação de Mestrado sobre 50 desses poemas inéditos. “E, afinal, que o poema-livro ‘Caos’ mostra o início da modernização da minha linguagem”.  

 

Jales Naves, jornalista e historiador, integra a Associação Goiana de Imprensa, o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, o Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado e a Academia de Letras e Artes de Caldas Novas. 

Gilberto Mendonça Teles

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.