Movimentaram a manhã na instituição, homenageando os pioneiros na criação do Curso, debatendo questões atuais do Jornalismo e relançando um livro de 1949

Mesa Diretora da sessão pelos 45 anos de formatura vice-reitor Manoel Chaves, Carlos Reche representante do Governo, Angelita Lima diretora da FIC, Rosana Borges coordenadora do Curso e Jales Naves

Foi um encontro memorável, quando as pessoas tiveram prazer em rever seus colegas, conhecer novos amigos e participar de reunião a que todos queriam estar presentes, para curtir, aproveitar cada momento e reafirmar amizades. Realizada de forma incomum e muito elogiada, pela qualidade dos três eventos, a comemoração dos 45 anos de formatura da segunda turma (1969-1972) do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás constou de homenagem a pioneiros na sua criação, um dos primeiros cursos no Brasil, reconhecendo o trabalho que realizaram; de palestra sobre questões da atualidade, como as mudanças estruturais no Jornalismo e sua relação com as redes sociais, fenômeno mais recente; e de lançamento da segunda edição de uma obra publicada em 1949, “Contribuição à História da Imprensa Goiana”, de José Lobo. Tudo aconteceu na manhã chuvosa de quarta-feira, dia 27, no auditório da Faculdade de Informação e Comunicação da UFG, no Campus Samambaia, e encerrou o ciclo comemorativo dos 50 anos do Curso, criado em 30 de setembro de 1966. A iniciativa teve o apoio da Universidade Federal de Goiás, por sua Faculdade de Informação e Comunicação (FIC/UFG), da Associação Goiana de Imprensa (AGI) e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás.

Entre os presentes à comemoração, à frente, Lena Castello Branco e Maria Luiza Naves

Em sua saudação, o idealizador do encontro, jornalista Jales Naves, destacou o papel fundamental desempenhado pelos pioneiros, que enfrentaram as mais diversas dificuldades, inclusive de professores, que eram contra a criação do Curso, e disse das etapas seguintes, todas vencidas com muita luta. Ressaltou, em especial, os seus colegas da segunda turma, sempre ativos e brigando para que o Curso tivesse as condições ideais de ensino, seja quanto a materiais e equipamentos, como com relação aos professores com formação específica, inclusive realizando em Goiânia, naqueles tempos sombrios, o I Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação. Nessa volta à Universidade, de apenas uma manhã, disse que a intenção era mostrar que estavam fazendo o mesmo que tinham feito naqueles anos finais da década de 60, de realização de debates e busca de soluções, e de luta pela preservação da memória e da história, relançando um livro pioneiro sobre a imprensa goiana. Agradeceu a colaboração, dentre outros, dos professores Angelita Lima, Rosana Borges, Juarez Maia e Solange Franco na concretização daquele evento.

Jornalistas Manoel Juraci, Neila Figueiredo, Leila Daher, Cristina Lobo e Laurenice Noleto, na comemoração dos 45 anos de formatura

Compareceram seis dos 10 alunos que concluíram o Curso: Jales Rodrigues Naves, Laurenice Costa Noleto Alves, Leila Daher, Manoel Juraci Souza Mota, Neila Castelo Branco Figueiredo e Teresa Cristina de Morais Lobo Garcia. Um, Modesto Lopes dos Santos, faleceu aos 65 anos, em 2011; e não foi possível encontrar Maria Olímpio dos Santos. Maria Batista Cordeiro está se recuperando de uma cirurgia, e Marta Cardoso, que mora em São Paulo, não compareceu.

Programação

A programação constou de homenagem aos pioneiros e contou com a presença de seis homenageados, que receberam o Diploma de Reconhecimento, emitido pela FIC/UFG, AGI e Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás: jornalistas José Osório Naves, 76 anos, que na época presidia esse Sindicato, e Walter Menezes, 86 anos, então presidente da Associação Goiana de Imprensa (AGI), pela luta para criar o Curso; professora Lena Castello Branco Ferreira Freitas, 86 anos, que dirigia o Instituto de Ciências Humanas e Letras da UFG, acolheu e implantou o Curso; dois professores daquele período: Maria Sônia França, de ‘História do Brasil’, e Thomas Roland Hoag, de ‘Introdução às técnicas de Fotojornalismo’; e, representando o jornalista Reynaldo Rocha, recentemente falecido e que integrou a primeira turma, os dois filhos, Daniela e Cláudio Cardim Rocha, e o irmão Francisco Eduardo Rocha.

Jales Naves entrega diploma de reconhecimento ao jornalista José Osório Naves pela luta em prol da criação do Curso de Jornalismo da UFG, durante a comemoração, ladeados pelo presidente da AGI, Valterli Guedes, e pelo vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Goiás, Alexandre Alfaix

Presente ao evento a sra. Maria Luiza Naves, 96 anos de idade, mãe do coordenador do evento, Jales Naves, e de um dos homenageados, José Osório Naves, acompanhada de outros quatro filhos (Sevan, Fátima Rosa, Regina Cândida e Eliza Monica) e das noras Clasmiranda Ansaneli Naves, Heloísa Machado Naves e Ana Maria Valadão Naves.

Falaram o jornalista Jales Naves, justificando a realização do evento; a coordenadora do Curso de Jornalismo da UFG, professora Rosana Borges, que anunciou ter o curso alcançado a excelente nota 4 no Exame Nacional de Desempenho de Estudandes (Enade), avaliação feita pelo Ministério da Educação; a diretora da FIC/UFG, professora Angelita Lima; o presidente da AGI, jornalista Valterli Guedes; o vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Goiás, Alexandre Alfaix; o vice-reitor da UFG, professor Manoel Chaves; e o chefe do Gabinete de Gestão de Imprensa do Governo do Estado, jornalista Carlos Eduardo Reche, que representou o governador Marconi Perillo. O jornalista Walter Menezes, ao receber o diploma de reconhecimento pela luta em prol da criação do curso, fez questão de também se pronunciar.

Foi apresentado o vídeo-documentário “Diálogos do Silêncio – o Curso de Jornalismo e suas origens”, projeto experimental dirigido pelo então aluno de Jornalismo Johan Pedro Pires, orientado pela professora Rosana Borges e concebido com a intenção de aprofundar o conhecimento sobre o surgimento do curso na Universidade Federal de Goiás, dando destaque aos sujeitos e instituições relevantes ao processo. Foram também exploradas outras questões importantes, como a relação dos alunos do curso com o mercado de trabalho da época e a relação entre o Jornalismo e o estado de exceção instaurado com o Golpe Militar de 1964.

As mudanças estruturais no Jornalismo e sua relação com as redes sociais foram o tema da palestra proferida, de forma brilhante, pela professora doutora Nélia Del Bianco, da UFG. No lançamento da segunda edição do livro “Contribuição à História da Imprensa Goiana”, do escritor José Lobo, ainda pouco conhecido nos meios acadêmico e jornalístico, falou o jornalista Manoel Juraci de Souza Mota, que integrou a segunda turma. A obra, que compreende o período de 1830 a 1946, resgata mais de 180 títulos, faz um resumo, com rápidos comentários sobre a linha de cada publicação, e indica quem conduziu os primeiros jornais goianos.

Diploma de Reconhecimento por ter coordenado as comemorações dos 45 anos de formatura

Saudação dos homenageantes

Discurso do jornalista Jales Naves na abertura das comemorações dos 45 anos de formatura da segunda turma de Jornalismo da UFG, na manhã de quarta-feira, dia 27, no auditório da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia:

É com satisfação que retornamos à Universidade, ainda que por uma manhã, e queremos marcar essa rápida volta da forma como foi nossa trajetória, na instituição e na profissão, com muitas atividades, debates e muitas realizações.

Hoje, já reduzindo nosso ritmo, vimos recordar aqueles tempos, de muitos sonhos e de muitas lutas, agradecer e avaliar a nossa caminhada.

Estamos aqui para nos lembrar dos pioneiros, cujo trabalho incansável e determinado abriu-nos a oportunidade de encaminhar um desejo, um sonho, a busca de uma atividade profissional que procurávamos. E queremos reconhecer esse papel importante que desempenharam, o trabalho que desenvolveram, as muitas reuniões de que participaram, as dificuldades e incompreensões. E por isso vamos homenageá-los pelo que fizeram, tornando realidade o que apenas sonhávamos.

Queremos agradecer à Universidade Federal de Goiás a acolhida à proposta, na época um clamor da sociedade e já nos planos do reitor Colemar Natal e Silva, um visionário que entendeu o momento e o real papel de uma instituição superior, como agente de transformação social: estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico, tecnológico e do pensamento reflexivo.

O antropólogo Darcy Ribeiro defendeu esse papel ao projetar a Universidade de Brasília, alinhando suas funções básicas: ampliar as exíguas oportunidades de educação oferecidas à juventude; e diversificar as modalidades de formação científica e tecnológica, instituindo as novas orientações técnico profissionais que o incremento da produção, a expansão dos serviços e das atividades intelectuais estavam a exigir. Para ele, a presença de uma universidade poderia contribuir para a criação de uma nova cultura para uma cidade repleta de diversidade e carente de tradições e costumes; servir de modelo para novas instituições; e oferecer quadros qualificados para a gestão pública e o fortalecimento social e econômico da região e do país.

Agradecemos também ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás, uma entidade que ainda estava se estruturando, buscando seu espaço e já compreendendo o significado da formação superior, de aprofundar os conhecimentos, preparar os futuros profissionais numa perspectiva mais crítica e questionadora, na defesa dos direitos e das liberdades.

Igualmente, agradecemos à Associação Goiana de Imprensa, entidade mais antiga e com um quadro social mais abrangente, por fortalecer a luta, encampá-la e contribuir para a sua viabilização.

O Curso de Jornalismo foi uma oportunidade da reflexão num ambiente rico em informações, a busca do conhecimento, a orientação ao estudo recebida dos professores, o debate das ideias e a participação nas atividades socioculturais e políticas, num momento de grande tensão nacional. A chegada dos militares ao poder político, o acordo MEC-Usaid, a reforma universitária, as mudanças no ensino superior, de um lado, e a movimentação de estudantes e professores na discussão e na contestação dessas propostas e alterações que estavam ocorrendo, de outro. Esse quadro gerava dificuldades, trazia medo, tentava limitar nossa participação e fazia com que problemas imediatos exigissem mais, como a falta de estrutura, de professores com formação específica, de livros e equipamentos. E até mesmo o reconhecimento do Curso, que só ocorreu sete anos depois de sua implantação.

Hoje só temos a agradecer por tudo que vivenciamos, aprendemos, fizemos, lutamos. Aproveitamos cada momento, batalhamos pelas soluções, sofremos com as decepções, sentimos a angústia das perdas e das derrotas, e aprendemos a brigar por nossos direitos, pelas liberdades, pela cidadania e a persistir sempre na defesa de nossos ideais. Essa garra e essa determinação levamos em nossa trajetória, em cada local em que trabalhamos, onde demos nossa contribuição, como cidadão responsável e como profissional consciente de sua missão.

Foi esse espírito que nos motivou a voltar hoje à Universidade, justamente para completar aquilo que havíamos iniciado: o pioneirismo nos levou a brigar pelo que acreditávamos. Vimos agradecer, e nominar quem fez. Muito me orgulho de citar o jornalista José Osório Naves, com quem comecei a trabalhar no Jornalismo, ainda antes de ingressar no Curso, e que foi responsável, como presidente do Sindicato, pelo trabalho de afirmação e consolidação da entidade num ambiente tenso e de grandes dificuldades. Seu empenho, seu entusiasmo e sua determinação foram fundamentais nesse processo, diante de um quadro político adverso e difícil. Sua firmeza e sua liderança contribuíram para o avanço da proposta. Ao seu lado, Walter Menezes, o primeiro a criar uma agência de publicidade em Goiânia, quando os veículos começavam a se afirmar e na época presidindo a AGI, igualmente insistente e determinado na consecução da proposta, afinal vitoriosa.

A mudança no ensino superior transformou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), implantado justamente quando a nossa turma ingressou na Universidade. O ICHL tinha como diretora a professora Lena Castelo Branco Ferreira Costa, eficiente, compromissada com a instituição e segura em suas decisões, conduta que despertava admiração e respeito de todos. O Instituto acolheu o Curso e o viabilizou, progressivamente, em termos materiais, de pessoal docente e recursos didáticos. Ela procurava, na medida das possibilidades, atender nossos pleitos. Hoje reconhecemos a importância de seu trabalho e lhe agradecemos.

Como segunda turma, tivemos dificuldades com alguns professores, e isso nos ajudou a brigar pelo que queríamos, chegando mesmo a enfrentar alguns deles, que ameaçaram com retaliações pela nossa ousadia. Prevaleceu, nesse caso, o bom senso e o entendimento. Estudamos mais e não fomos prejudicados por eles.

Os poucos colegas da primeira turma, todos destaque na profissão, sofreram mais do que nós, pelo pioneirismo e pelas naturais dificuldades que enfrentaram. Pagaram o preço por terem iniciado todo o processo.

Nossa luta foi grande, pela melhoria da qualidade do ensino, por maior participação, por mais espaço. Inovamos, ao criar um Centro de Estudos de Comunicação no âmbito da Universidade Federal de Goiás, que tive a honra de ser o primeiro presidente, que nos permitiu criar espaço para discussões e reflexões. Esse Centro nos possibilitou a ousadia de realizar, em Goiânia, naqueles tempos sombrios, o I Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação, que igualmente tive o privilégio de presidir, quando definimos as reivindicações nacionais e as encaminhamos ao Ministério da Educação e Cultura e ao Conselho Federal de Educação.

Nessa comemoração, queremos contribuir com o debate sobre questões atuais, como as mudanças estruturais no Jornalismo e a sua relação com as redes sociais, um fenômeno recente, que requer ampla discussão a respeito. Convidamos a professora doutora Nélia Del Bianco para expor as novas ideias na área e favorecer a compreensão do novo quadro. Em recente artigo, ela defendeu que os avanços tecnológicos, em especial a internet, provocam mudanças estruturais na sociedade e nos próprios meios de comunicação.

Citou um exemplo: “A televisão, como meio de comunicação de massa, vem alterando a sua programação, inserindo novas práticas centradas na extensão de sua programação para a rede de computadores e na interatividade com o telespectador. Essas mudanças podem abrir novas portas para que o cidadão influencie a pauta do telejornal e leve para a tela da tevê os temas caros à cidadania”.

Outra contribuição deste evento é o lançamento da segunda edição do livro “Contribuição à História da Imprensa Goiana”, do escritor José Lobo, originalmente de 1949 e ainda pouco conhecido nos meios acadêmico e jornalístico. Primeiro livro da área, a obra resgata os títulos, faz um resumo, com rápidos comentários sobre a linha de cada publicação, e indica quem conduziu os primeiros jornais goianos.

O autor o considerou um trabalho incompleto, com uma assertiva: servir de base para quando for escrita a história integral da imprensa de Goiás.

A experiência na universidade, de estudos, de reflexões e de participação, cada um levou, a seu modo, para a prática profissional, para a sua vida.

Agora, queremos reafirmar o nosso agradecimento por tudo, e por isso, nessa reafirmação, deixamos claro que continuamos da mesma forma: sabemos reconhecer quem nos orientou, continuamos na luta pelo que almejamos, discutimos as questões da atualidade e contribuímos para o estudo e a preservação da memória e da história.

As ações de hoje reafirmam esse modo de ser: não fomos ausentes, não nos omitimos, mesmo diante das dificuldades, e continuamos participando, brigando.

Obrigado pela oportunidade e que a Universidade prossiga nesse ritmo, oferecendo oportunidade de estudo, de reflexões e de participação.

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