Maria Luiza Naves com a neta Maria Luiza Naves
Foi um momento marcante o encontro da semana passada de Maria Luiza Naves, 103 anos, e sua neta, Maria Luiza Naves, 26.
Elas se conhecem pouco, mas tem muitas afinidades – no modo de ser, no modo de agir, nas decisões e na forma determinada como conduzem suas iniciativas.
O pouco relacionamento se deu por circunstâncias alheias a elas próprias.
Maria Luiza Naves, que se chamava inicialmente Maria Luiza Neta, nasceu em Trindade, GO, em 1921, perdeu a mãe com pouco mais de dois anos e foi criada pela avó paterna, homônima, Maria Luiza de Jesus, tratada carinhosamente como Vó Iza. Estudou apenas as primeiras letras, pois na vila de São Geraldo, para onde se mudou aos quatro anos, não tinha escola, e a avó conseguiu, em Trindade, uma professora para ensinar o básico às poucas crianças residentes no vilarejo.
Uma boa recordação desse tempo foi a convivência com padre Pelágio Sauter, que sempre comparecia à vila – que pertencia ao então município de Campinas e foi transferida para a nova capital goiana –, em sua missão religiosa e enriquecia a vida dos jovens com muitas atividades. Uma delas, a música, ensinando instrumentos, a cantar e a encenar, em pequenas apresentações teatrais.
Casou-se antes de completar 17 anos, e, a partir daí, não teve tempo para descanso, para jogar conversa fora, só tarefas, responsabilidades de casa, o apoio ao marido, José Rodrigues Naves Júnior, e a criação dos nove filhos. O primeiro. José Osório Naves, chegou antes mesmo dela completar 18 anos; o segundo, Raulindo Heinzelman Naves, dois anos depois e ela já nomeada subPrefeita da vila de São Geraldo, administrando a casa e o vilarejo.
Logo o marido se interessou pela política e ela assumiu junto, fazendo o trabalho com os eleitores, e assim não parou mais. Muito unidos, abraçaram a religião católica, frequentaram a igreja e participaram de suas atividades e de entidades a ela ligadas, como a Sociedade São Vicente de Paulo e outras.
A neta Maria Luiza Naves é filha de José Rodrigues Naves Neto, o sobrinho e afilhado que Naves Júnior acolheu em casa quando o pai, João Rodrigues Naves, faleceu, ainda criança, e o criou como filho, inclusive ganhando o apelido de JoséJoão, união dos prenomes dos dois irmãos.
JoséJoão, mineiro de Romaria e goiano por essas opções da vida, estudou na Escola Técnica Federal de Goiás, tornou-se mecânico, casou-se com Maria Nelma, teve seis filhos, morou em Goiânia e em Itumbiara antes de se transferir, em definitivo, para Araguaína, no então Norte de Goiás. Trabalhou muito, criou a família e ficou viúvo.
Do segundo casamento, com Ivaneide Alves de Souza, nasceu em 1997 uma filha e logo quis homenagear a madrinha que o criou e que tanto admirava. A convivência de pai e filha, harmoniosa, com promessa de custear o Curso de Medicina que ela e ele tanto queriam, foi interrompida, com a morte dele quando ela tinha apenas 14 anos.
A perda do pai, por quem tinha grande admiração, transformou sua dor em força para lutar, tornando esse objetivo em projeto de vida. Sem as condições financeiras anteriores, o jeito foi ajustar tudo ao novo quadro, e o desejo de cursar Medicina, pelos padrões e custos brasileiros, foi deixado de lado, e a alternativa mais viável foi o vizinho país, Paraguai.
A determinação em estudar e realizar o sonho a isolou da convivência com os demais parentes, pela distância física, que agora retoma, ao concluir o curso e já começar a atuar como clínica geral. Nos planos, fazer Residência Médica em Pediatria.
O reencontro da semana passada foi de emoção, reaproximação e manifesto desejo de maior convivência, para estreitar mais essa união que, mesmo à distância, foi mantida e preservada.
São fortes, determinadas e sabem lutar pelo que querem alcançar, não desistindo de seus projetos.
Fazem jus ao nome que carregam: Maria Luiza Naves.