Joãozinho marcou sua trajetória como cinegrafista, sempre com uma câmera na mão

Profissional competente e responsável, colega solidário e presente, amigo de todas as horas, João Araújo Filho é uma dessas pessoas especiais, sinceras, desprendidas, que são exemplo de vida.

Desde criança um lutador, construiu a vida ultrapassando os numerosos obstáculos que foram surgindo à sua frente, com tenacidade, determinação e vontade de vencer. Órfão ainda bebê e adotado pelos padrinhos, que o criaram como filho, ele abraçou essa acolhida como uma chance de crescer. Sem maiores oportunidades de estudo, gostava de trabalhar, e as atividades, simples pela sua escassa formação, foram muitas, as que a época e as condições permitiam: engraxate, jornaleiro, auxiliar de oficina mecânica e até “preparador físico de galos de briga” — o ato de cuidar dessas aves muito bem descrito pelo médico Gil Perini em sua crônica “Meu primeiro emprego“, publicada no jornal “O Popular” do dia 11 deste mês.

Ele nunca foi de desperdiçar oportunidades e nem de desanimar diante das barreiras que surgiram à sua frente. O primeiro emprego de carteira assinada foi o de motorista no Consórcio de Empresas de Radiodifusão e Notícias do Estado (CERNE), mas não se restringiu a conduzir as equipes da TV Brasil Central no cumprimento de suas pautas jornalísticas: logo ele passou a ajudar os jornalistas nessas coberturas e, com isso, inteligente e curioso, em pouco tempo já sabia colher imagens para as matérias do jornalismo da TV. Fiel aos amigos, teve retribuição nessa dedicação, e na primeira chance ele mudou de atividade naquela estatal, passando a cinegrafista, profissão que abraçou com todas as suas forças e entusiasmo.

Simples em tudo que fez, a vida que construiu seguiu esse roteiro de simplicidade: o namoro com a colega de trabalho, Tereza de Oliveira, logo foi oficializado, noivaram e se casaram em pouco tempo; a casa no Setor Novo Horizonte, que passou a ponto de encontro dos numerosos amigos; a viagem anual ao Rio Araguaia, em julho; e o seu jeito de ser.

A esposa foi seu grande esteio, e os filhos chegaram em seguida. Tive o privilégio de participar de alguns desses momentos: somos amigos desde a infância, pois éramos vizinhos no bairro de Campinas, e meus pais, José Rodrigues Naves Júnior e Maria Luiza Naves, foram seus padrinhos de batismo. Crescemos juntos e, por coincidência, fomos trabalhar na mesma empresa, o CERNE, que ficava na Vila Nova, no extremo oposto de onde morávamos. Quando se casou, fui seu padrinho; e também tive a honra de ser padrinho de seu segundo filho, Marcos Paulo.

Como na vida há muitos momentos de provação, ele passou por vários. O maior deles aconteceu em 1989, ao integrar uma equipe de jornalistas que faria uma matéria em Ipameri e Campo Alegre sobre lavoura irrigada: o carro em que viajavam capotou e ele foi o único que se machucou, pois as caixas com os equipamentos bateram fortemente em sua cabeça; socorrido no Hospital de Base de Brasília, ficou em coma por vários dias, passando por diversas cirurgias; teve amnésia, não se lembrando de nada, nem dos familiares; e quando, muitos dias depois, ia ser transferido para Goiânia, para continuar o tratamento mais perto da família, descobriram que estava com cinco costelas quebradas. A sua recuperação tem sido penosa e lenta, e ainda hoje ele não é mais o mesmo.

A segunda grande provação veio quando, ainda em tratamento e tendo recuperado parte da memória graças ao esforço, ao amor e ao carinho de sua mulher, Tereza, ela, acometida de câncer, faleceu, deixando-o com três crianças; os filhos, como que entendendo essa situação, logo inverteram o papel e passaram a cuidar dele, dedicando-lhe seus preciosos momentos de crianças, adolescentes e agora como jovens adultos. E todos corresponderam, cada um se organizando em sua área e hoje já com suas respectivas famílias. Meu afilhado, Marcos Paulo, que era muito apegado à comadre Tereza, seguiu os passos da mãe, desde jovem trabalhando no escritório de contabilidade dos tios, fazendo curso superior, graduando-se em Ciências Contábeis, e hoje, como profissional, atua como auditor em uma empresa.

Faço este novo registro sobre meu compadre Joãozinho — e o faço com algumas anotações pessoais —, para completar o primeiro artigo, publicado no “Jornal Opção” de 06.11.2005, pág. A-45 / Opinião, que cumpriu seu objetivo, de alertar o governador Marconi Perillo para uma injustiça que iria cometer. Não seguindo o parecer padronizado da Procuradoria Geral do Estado, sempre negando os pleitos dos servidores, Marconi, reafirmando a sua sensibilidade, concedeu-lhe a devida aposentadoria, pela Portaria n° 128, do dia 1° deste mês, publicada cinco dias depois no “Diário Oficial” do Estado, data a partir da qual ele já pode desfrutá-la, com todos os direitos e vantagens que o cargo lhe oferecia.

Fez-se justiça para uma pessoa simples, para um profissional correto e cumpridor de suas obrigações, cuja saúde ficou seriamente comprometida justamente quando cumpria um desses deveres profissionais, e um amigo sempre solidário, em todos os momentos.

Portanto, nada mais justo.

É importante frisar a participação do chefe do Gabinete Civil da Governadoria, Ivan

Gouveia, que foi nosso colega no CERNE, ele na Agência Goiana de Propaganda e nós na Agência Goiana de Notícias. Sensível e responsável por essa área, ao ler o artigo e conhecendo a situação, ele poupou o Governador de cobranças, logo entrando em contato com a família de Joãozinho e providenciando a sua inclusão no Decreto n° 6.320, de 02.12.2005, publicado no dia 9 daquele mês no suplemento do  “Diário Oficial” do Estado, e que beneficiou outros oito profissionais daquela empresa, num ato igualmente nobre do Governo. E também da secretária particular do Governador, Glória E. Miranda, que, recebendo uma cópia do artigo, enviada pelo jornalista Helverton Baiano, da Assessoria de Imprensa do Palácio das Esmeraldas, imediatamente encaminhou o artigo ao Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (Ipasgo) que, como de costume, pouco se interessa pelo destino de seus contribuintes. Gentilmente, ela me encaminhou uma cópia dessa correspondência do Ipasgo.

Joãozinho e os demais colegas incluídos no Decreto n° 6.320 atingiram uma das aspirações do servidor público — que ultimamente tem se transformado em angustiante expectativa e às vezes em motivo de frustração —, que é ter uma aposentadoria e uma terceira idade dignas, depois de dedicar toda a sua vida ao Serviço Público.

Fica, portanto, o reconhecimento a todos quantos, tendo lido o artigo e se sensibilizando com o fato, contribuíram para dar uma aposentadoria digna a João Araújo Filho, como deveria ser com todos os profissionais que também cumpriram digna e corretamente a sua missão.

(Publicado no ​ “Jornal Opção“, de Goiânia, GO, edição n° 1.598, de 19.02.2006, pág. A35, Seção Opinião / Cartas. Endereço eletrônico: www.jornalopcao.com.br)

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